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O Hobbit: A Desolação de Smaug

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Depois de um péssimo começo, com muita enrolação e tramas paralelas, Bilbo e companhia voltam aos cinemas. A missão é dar continuidade à busca do lar dos anões com uma trama e estrutura de roteiro mais coesas. Em certo nível, a missão foi realizada, mas passa a errar em outras partes.

Bilbo e os anões ainda estão sendo seguidos pelos orcs após o final do primeiro filme. Mas a proximidade de Erebor os estimula, apesar de revelar novos desafios e riscos. Não apenas para os anões, mas para toda a Terra Média.

Se o primeiro filme pecava em perder o foco misturando a história infantil dos personagens principais com trechos sombrios de Contos Inacabados e O Silmarillion, aqui o foco é realmente os protagonistas. E eles não parecem mais tão bobos e insossos. Principalmente Bilbo.

O hobbit ficou mais sério e parece ter finalmente tomado noção do perigo envolvendo a viagem em que embarcou. Grande parte por conta do peso da joia descoberta no primeiro filme. Agora ele não tem medo de enfrentar os inimigos frente a frente e acaba sendo o herói em diversos momentos de suspense e perigo.

Os anões já não são mais o mesmo bando de palhaços desengonçados. Assumem tom mais sério e até ganham dramas pessoais. Mas continuam agindo de formas convenientes para o roteiro. Todo momento de perigo começa com eles sendo capturados, seja por aranhas, elfos ou humanos. Depois que Bilbo tem sua chance para brilhar e os liberta, eles saem matando inimigos, sendo inteligentes e capazes. Mas só quando é útil ao roteiro. E sempre levando a cenas terrivelmente plásticas e falsas.

Na pior delas, um deles sai quicando em Orcs e rodando seu machado com braços abertos. Logo após, ele volta para o rio de onde saiu e pula dentro de um barril vazio. Sendo que não foram soltos mais barris vazios além daqueles em que os anões estavam. Tudo isso graças ao fato de que tudo em cena é computação gráfica. Por isso parece ainda mais falso. Principalmente com a animação cheia de movimentos não-humanos.

Anões de plástico. Cena de ação longa demais.
Anões de plástico. Cena de ação longa demais.

Era um problema comum no primeiro filme, mas aqui parece que alguém esquece de aplicar texturas e efeitos de ambiente. Diversas coisas são tão mal feitas que acredito que até um videogame criaria objetos mais realistas.

Piora muito mais com o fato de que Jackson parece ter desistido de filmar as coisas. Mil e uma cenas e panorâmicas são completamente realizadas em computação. Como não está tudo bem feito, o filme inteiro vai parecendo cada vez mais e mais plástico. Principalmente nas cenas de ação.

A cena dos barris do livro ganha uma extensão absurda. São uns vinte minutos de elfos ridiculamente poderosos fazendo coisas que não fazem sentido enquanto os anões quicam por aí. Mas essa sequência nem se compara com o clímax do filme. Quando o dragão Smaug é finalmente revelado, é seguido por uma cena de ação gigantesca. Sozinha, essa cena daria metade de um filme bom e enxuto. Mas aqui ela vai se alongando com os milhares de efeitos especiais mostrando um dragão ineficiente.

Já são dois filmes anunciando o dragão como uma grande ruína alada de civilizações. Mas quando ele decide matar um hobbit e nove anões, ele parece um pateta gigante e desengonçado. Cai aqui, tropeça ali, perde os anões por passagens e esbarra o tempo inteiro no cenário. Isso por longos minutos que nunca parecem acabar. Levando a um momento de triunfo dos anões antes de fechar o filme com um gancho para o próximo.

Quanto à coerência da história, a mudança entre a trama do necromante na floresta e a jornada do grupo principal não destoa tanto. Com o tom dos quatorze protagonistas mais sério, eles parecem estar em um mesmo universo. Além do que, depois dos primeiros trechos, tudo o que acontece no filme parece ter alguma importância para a continuidade dos eventos retratados.

Esses primeiros trechos porém, são péssimos. O filme mostra uma participação rápida de um tal de Beorn só para ser fiel ao livro. São uns quinze minutos de enrolação desnecessária e chata. Depois disso surgem outros motivos para que essa adaptação tenha virado uma trilogia. E nenhum deles é bom.

O filme tenta construir um drama para aprofundar alguns coadjuvantes importantes que no livro não possuem expressividade. O faz para que o humano Bard tenha simpatia e para dar algo realmente importante para Legolas aparecer na produção.

O problema é que é tudo muito ruim. Bard virou um personagem interessante, mas a cidade onde mora é feita de estereótipos que dão vergonha. Incluindo uma participação risível do Stephen Fry. Na parte do elfo, é bem claro que as mãos femininas que fizeram parte do roteiro quiseram criar um triângulo amoroso para deixar o filme mais interessante para mulheres. Mas é um triângulo tão ilógico e mal construído que parece uma piada de mal gosto.

Triângulo amoroso sem graça. Ela parece mais uma garota fazendo cosplay que uma elfa.
Triângulo amoroso sem graça. Ela parece mais uma garota fazendo cosplay que uma elfa.

Piora ainda quando tudo isso toma aproximadamente uma hora da duração total do filme. Tem um desenvolvimento que parece estar levando a algum lugar. Mas é desnecessário, mal feito e só serviu mesmo para ajudar a transformar isso em trilogia.

Apesar de tudo isso, é uma sessão muito mais fluída para o espectador. Com o acerto do ritmo e do tom, o filme passa rápido e com menos incômodo. Além do que, constrói para seu clímax e nele, solta todas as deixas para que fiquemos intrigados com a continuação.

O brilho fica com o de sempre. Direção de arte e de fotografia geram imagens absurdamente bonitas. O elenco é maravilhoso, com exceção dos humanos e do rei élfico. Terríveis. Ian McKellen não aparece muito. Martin Freeman evolui seu personagem de maneira maravilhosa. Orlando Bloom está estranho, parece estar anestesiado em cada cena. Destaque para Luke Evans como Bard. Esse ator é muito bom.

O 3D está bom, mas não acrescenta nada. A versão que assisti foi em 24 fps, o que revelou momentos estranhos. Com o HFR, Jackson pode mexer sua câmera mais rápido sem perder fluidez de movimento. Mas, quando traduzido para o padrão normal, essas tomadas parecem tremidas. Em 3D geram um desconforto.

Quando o gancho final é proposto e o filme está prestes a terminar. Bilbo diz “O que nós fizemos?” Talvez seja algo que Jackson e seus colegas realizadores devessem se questionar sobre esses filmes. Está superior ao primeiro, o que não é necessariamente positivo.

 

FANTASTIC…

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