Quando se fala em animação por meio da técnica stop-motion, já há um interesse a mais. O estilo ficou esquecido dos grandes estúdios quando a computação gráfica conseguiu chegar a outro nível de realismo e de facilidade. Porém, o charme do que ficou conhecido no Brasil como filme de massinha, ainda funciona. Ainda mais quando se fala nos dois grandes estúdios que ainda produzem no jeito, Laika e Aardman, realizador deste O Homem das Cavernas.
Eles abordam uma vila de humanos que não acompanharam a evolução da espécie por viver em um ambiente isolado. Quando a civilização que alcançou a era do bronze os encontra, os expulsa da vila para minerar o metal no solo. Dug (Eddie Redmayne na voz original) descobre que uma partida de futebol contra o time campeão pode ser a salvação da tribo.
Então segue aquele padrão típico de filmes de esporte, em que uma equipe em desvantagem precisa aprender e treinar para um confronto final. Mas feito por um estúdio de animação em stop-motion britânico. E em um contexto de idade pré-histórica.
E como se trata de uma estrutura já conhecida, os clichês esperados podem dar as caras se bem feitos, ou o filme pode tentar surpreender. E o diretor Nick Park, junto dos roteiristas Mark Burton e James Higginson, segue o caminho seguro. Porém, há problemas fundamentais tanto no roteiro, quanto na adaptação para o mercado nacional.
Primeiro porque a escolha para que o espectador torça pelos protagonistas é fazer com que eles sejam vulneráveis. Dug é, de certa forma, o fora de lugar porque ele quer mudar os alvos de caça da tribo de coelhos para mamutes. Mas ele é um dos mais inteligentes da vila e, portanto, um dos mais respeitados. O motivo para a caça dos animais maiores não é racional, ele apenas quer uma caça maior. A vulnerabilidade, não existe de verdade.
Assim, quando ele resolve fazer a partida e o treino com os conterrâneos, o espectador não se importa e nem se envolve com eles. Especialmente porque eles existem mais para serem alívios cômicos devido à burrice por serem da idade da pedra. É difícil até acreditar que eles têm como sobreviver por muito tempo quer ganhem o jogo ou não.
Na verdade, quem rouba a cena é o porcão, o suíno de Dug que se comporta como um cachorro e é apenas o alívio cômico que parece comentar os absurdos de tudo o que acontece. Mas ele funciona apenas porque o personagem não tem falas. Na versão original, os homens da caverna têm sotaque inglês, enquanto os do bronze, falam como franceses.
Em português, a enxurrada de piadas com trocadilhos são perdidos. Basta ver o trailer do filme para ver que ele é engraçado. Na versão nacional, ele não consegue carregar metade da qualidade de humor do original. Acontece de dublagens brasileiras melhorarem um filme, mas neste caso, piora demais.
O que salva é a excelente animação da Aardman, que chega a deixar escapar marcas de digitais nas superfícies das massas que compões os personagens. O charme da técnica está lá em toda a glória, infelizmente não é acompanhado pelo roteiro e pela adaptação para o público infantil brasileiro, que deve curtir as piadas mais leves e bobas. Para os pais que acompanharão as crianças, a dica é levar um travesseiro.