As pessoas gostam de violência porque a sensação é boa, a partir do momento em que você retira essa satisfação, o ato perde o sentido. Com este raciocínio de Alan Turing (Cumberbatch), cuja vida é representada em O Jogo da Imitação, é possível compreender melhor o tom e o ritmo escolhido para o filme.
Turing era um matemático brilhante durante a Segunda Guerra Mundial que teorizou sobre uma máquina capaz de processar informações de forma a beirar o raciocínio cerebral. Encarregado de decifrar a máquina de códigos nazistas chamada Enigma, ele precisa equilibrar informações e segredos para conseguir criar seu processador e ajudar a terminar a guerra.
Adaptação do livro homônimo, o filme conta os batidores da criação da máquina que seria a primeira das intituladas Máquinas de Turing, ou, como ficaram conhecidas eventualmente, computadores. Com foco total no mistério por trás do gênio. Inclusive no sofrimento dele.
Turing lidera a equipe na tentativa de quebrar o código nazista.
O roteiro divide a estrutura do filme em três histórias paralelas. A primeira contada pelo próprio Turing em flashback, que é sobre a participação dele dentro no MI6 e a criação da máquina. A segunda com a infância dele, quando começou a se interessar por códigos e matemática com a ajuda de um amigo. A terceira acompanha a investigação de um policial que acredita que Turing possa ser um espião comunista. As três crescem para revelarem em conjunto o grande segredo daquele homem. Ele sofria preconceito porque as pessoas não compreendiam os problemas de interação social dele, o que não está relacionado com o segredo, mas fez com que todos tentassem descobri-lo. É preciso que o roteiro siga as histórias como o faz para que o tal segredo seja o clímax do filme, mas como as histórias acontecem uma depois da outra, a narrativa fica confusa. Em diversas cenas, é difícil distinguir em que ponto da história os eventos mostrados ocorrem.
O diretor, Morten Tyldum, é eficiente, mas não é inventivo nem original. Apenas usa os enquadramentos e montagem de forma correta. A direção de arte serve para trazer à vida a Inglaterra da época e a fotografia é bela, mas inexpressiva. O grande acerto de Tyldum é dar espaço para os atores interpretarem à vontade, o que vai gerar as belas cenas do final.
Mark Strong supervisiona os segredos internos.
Benedict Cumberbatch aproveita todo o destaque que recebe. À princípio, as excentricidades de Turing faz com que ele pareça muito com o famoso Sherlock Holmes do ator, mas ele constrói a persona do matemático com trejeitos meticulosos que revelam características especificas dele. Keira Knightley tem um papel fundamental, mas não se destaca. Principalmente porque sua grande cena dramática é ofuscada pela presença do protagonista, um ator muito superior. Além dos dois, vale destacar apenas a participação do Mark Strong, majestoso como o chefe do MI6. Ele é intimidador e onipresente na trama, mesmo quando não está em cena.
No final, O Jogo da Imitação deixa um gosto amargo na boca. Não apenas pela história única de Turing, mas pelo absurdo do preconceito retratado. Principalmente ao se levar em conta que ainda existem lugares no mundo que mantém o tipo de legislação que a Inglaterra tinha na época. Dizer mais é estragar a boa surpresa.
GERÔNIMOOOOOOO…
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