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O Jogo do Exterminador, vale a pena assistir?

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Você já ouviu falar de O Jogo do Exterminador ou, como é chamado no original, Ender’s Game? O filme, que deve estrear na próxima sexta-feira, é adaptação de uma obra literária de 1985 que ganhou os dois maiores prêmios de ficção-científica da época de seu lançamento. O que pega é que o filme tem sofrido uma ação pública que promove um boicote.

Para começar, é preciso saber porque ele está sendo boicotado por um grande grupo de pessoas. O autor do livro, Orson Scott Card, é um racista e homofóbico aberto. Suas declarações públicas são controversas e ofendem muita gente com muita frequência. O problema é que ele também é produtor do filme e, portanto, receberá dinheiro pelo lucro da produção.

Ou seja, quanto mais pessoas assistirem ao filme Ender’s Game – O Jogo do Exterminador, mais dinheiro Scott Card vai ganhar para sustentar suas declarações de conservadorismo. A ideia por trás do boicote é que, se todos deixarmos de ir ao cinema, estaremos fazendo uma declaração política contra racismo e homofobia.

O que faz algum sentido. Dinheiro e a forma como o utilizamos pode ser considerado expressão ideológica. Tanto o é que o Playstation 4 praticamente não foi comprado no Brasil nos últimos meses. Ainda assim, muita gente possui uma cópia. Todas essas compradas de alguma forma de importação do exterior. Literalmente, os consumidores expressaram com seu dinheiro para a Sony que não vão comprar um produto extremamente caro.

O problema por trás do boicote é que, caso funcionasse (o que não acredito que vai acontecer), não estaria boicotando o autor Orson Scott Card, mas sim uma obra que envolve muito mais gente e que não representa os ideais dele.

O filme não é o autor e nem necessariamente é o que o autor acredita do mundo. Existem mil e uma discussões sobre semiótica que tratam dessa questão. Mas é melhor levar em conta outro aspecto. Ender’s Game é dirigido e roteirizado por Gavin Hood, sul-africano cujo grande destaque como diretor foi Infância Roubada, que conta com elenco majoritariamente negro. Logo, o diretor do filme não é racista e não deixaria sua produção ser racista.

Além dele, o elenco do filme já deu diversas declarações sobre o que o filme realmente representa e qual sua mensagem. Nenhum deles, incluindo o Harrison Ford, o Sir Ben Kingsley, Asa Burtterfield, Abigail Breslin, Viola Davis e Hailee Steinfeld aceitariam participar do filme se ele tivesse algum tipo de racismo ou homofobia em seu conteúdo.

Elenco do filme não tem nada a ver com o que Scott Card acredita.
Elenco do filme não tem nada a ver com o que Scott Card acredita.

Deixando isso de lado, é preciso lembrar que um boicote ao filme não seria ruim apenas para Scott Card. Considerando o tamanho da produção, provavelmente centenas de pessoas participaram da realização. Várias delas terceirizadas de empresas menores que o próprio estúdio.

São inúmeros créditos que não necessariamente dependem da renda, mas que tem muito a ganhar com ela. O sucesso do filme significa que a representação do nome de toda essa galera é mais vista e pode lhes significar novos trabalhos.

Sem contar que Scott Card pode não ganhar muita coisa com o sucesso do filme. Ele sequer vai ganhar como crédito de roteirista ou produtor. Scott Card não é da área de cinema ou de produção. Tampouco é roteirista. Sua participação nos créditos não lhe dará novos empregos na área.

Ele ainda é apenas o escritor do livro. E como escritor do livro, já é um sucesso. O livro ainda é muito reconhecido hoje. Por bons motivos. Vale lembrar que nem mesmo o livro é representante das ideias de Scott Card. Associações de gays e lésbicas já o leram e deixaram claro que o livro não tem nenhuma mensagem ou sugestão de segregação ou ódio.

Muito pelo contrário, O Jogo do Exterminador possui muitas reflexões sobre incompreensão e imposição de ideologias por parte de governos. Literalmente, convida o leitor a não se deixar levar por conceitos de outras pessoas. Ou a não aceitar tranquilamente as ideias de racismo e homofobia que ele mesmo prega.

Mas como eu já disse antes, a ideia por trás do boicote faz sentido. Mesmo que estejam possivelmente atacando a coisa errada. Ainda criam propaganda contra as mensagens de Scott Card não relacionadas ao livro e ao filme. Mais gente ficou interessada e informada sobre o que ele faz normalmente. E nem mesmo por isso perdeu o interesse em ver ou ler um dos dois.

É uma reflexão a ser feita. Eu vou assistir o filme de qualquer forma, a cabine é quarta e a crítica deve estar no ar quinta. Se você acha que deve ou não assistir, não sou eu quem deve dizer. Posso apenas informar um pouco.

Para quem tem interesse em continuar estudando o assunto, veja o vídeo abaixo deste parágrafo. Além dele, clique neste link para ver um comentário rápido sobre o que o Neil Gaiman acha de ideias semelhantes ao boicote. Tudo acrescenta à reflexão.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=PHZyzvLxEpU]

GERÔNIMOOOOOOOOO…

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