Primeira incursão do diretor David Dobkin fora do terreno da comédia, O Juiz é um drama familiar com doses de suspense de tribunal que discute valores liberais e conservadores. Nada disso é importante em comparação com os nomes dos atores principais, Robert Downey Jr. e Robert Duvall.
Hank Palmer (Downey Jr.) é um rico advogado de Chicago que volta para a cidade de interior onde cresceu para o enterro da mãe. Quando está lá, seu pai, o juiz Joseph (Duvall) ,é acusado de assassinato pelo eficiente promotor Dwight Dickham (Bob Thornton). Ele adia o retorno para a cidade grande para assumir o caso e é forçado a enfrentar diversos traços do passado que deixou para trás. Como culpas com o irmão Glen (D’Onofrio) e a relação suspendida com a ex, Sam (Farmiga).
O filme é um drama familiar pesado embasado no forte elenco. Na verdade, uma descrição melhor seria melodrama familiar. O julgamento não é apenas para desvendar os problemas das relações entre pais, filhos e irmãos. Enquanto Hank prepara a defesa do pai, ele também tem sua vida desnudada nos mínimos detalhes. O casamento problemático, a relação com a filha, por quê o pai sempre o tratou mal, porque virou um grande advogado, as dificuldades que surgem em famílias tradicionais. Além disso, o filme também é uma propaganda de como os modos conservadores e o sistema judiciário são as respostas para o mundo.
Hank observa a cadeira do pai. O ideal da legislação.
Dobkin fez boas comédias, mas sua capacidade de direção sempre foi questionável. Filmes do gênero exigem mais controle de ritmo que de narrativa. Quando o terreno é o do melodrama familiar, a área cinza é um pouco mais complicada. Surpreendentemente, ele faz um bom trabalho. Sabe onde colocar as câmeras e como lidar com a fotografia, que talvez seja mais mérito do experiente Janusz Kaminsk que de Dobkin. Na intenção de criar o ambiente familiar tradicional dos Estados Unidos, eles deixam as imagens granuladas com fortes contraluzes. Parecem imagens de super 8 antigos, mas em alta definição.
No começo do filme, todos os homens da família Palmer usam apenas elegantes tons de preto, indicando o luto do funeral e os segredos da família. A cada segredo levado à superfície, uma nova camada de cores surge em suas vestimentas. No tribunal, porém, quanto mais elegante e formal, melhor é o jurista. Em alguns enquadramentos, Dobkin consegue revelar as diferenças dos dois personagens ao colocá-los se separando ou olhando para ângulos opostos. Noutros, revela a influência do pai sobre o filho colocando Duvall por cima dos ombros de Downey Jr.
O problema de Dobkin se encontra na narrativa. O roteiro e a montagem fazem com que a história siga por muitas tramas paralelas que não significam nada para a trama. O redescoberto romance de adolescência é superficial e serve mais para uma ou duas piadas que para acrescentar ao filme. Assim como o casamento em frangalhos de Hank. A relação com a filha, porém, revela uma nova faceta do juiz para o protagonista. Esse excesso de plots faz com que o filme fique com duas horas e meia. Dessas, uns 45 minutos poderiam ter sido facilmente cortados. Principalmente porque muitos diálogos de briga entre os dois personagens não possuem peso dramático e são apenas repetitivos. Ainda assim, quando o diálogo é bem escrito, os dois atores conduzem cenas belíssimas.
Hank e o pai. Belos momentos íntimos.
A exaltação aos valores conservadores são um pouco incômodos. O filme tenta convencer constantemente que a vida de interior é melhor que a de cidades grandes, que a família é mais importante que o emprego, que a lei é justa acima de falhas, que a população relativamente ignorante dos Estados Unidos é ideal para o sistema de jurados e por aí vai. Aqui no Brasil não deve ser tão absurdo, mas por lá tem gerado manifestações de ódio de liberais.
Robert Duvall é um dos melhores atores de sua geração e aqui ele consegue provar que não perdeu nada de seu talento. Downey Jr., por outro lado, é o melhor ator de sua geração e em produções como esta é que revela o porquê. Nada de piadas rápidas, ele usa de seus trejeitos para exprimir todas as emoções de um personagem complexo, com muitos erros e até maldades em seu passado.
Vicent D’Onofrio está brilhante como o irmão rancoroso e sofrido que tinha um grande futuro, mas ficou preso na cidade pequena. O Billy Bob Thornton tem uma participação pequena, mas dá conta da dualidade de um homem que quer cumprir a lei, mas percebe nela uma leve injustiça. Vera Farmiga pega mais um vergonhoso papel de mocinha romântica. Uma grande atriz para um pequeno papel. Com uma participação ínfima, a Leighton Meester aparece linda de morrer em duas cenas pequenas e praticamente sem ter o que interpretar.
O Juiz se vale das grandes interpretações. Os atores dão conta do melodrama exagerado e fazem com que as lágrimas dos personagens pareçam naturais. Sofre com a exacerbação do conservadorismo e o excesso de tramas paralelas. A parte de drama de tribunal é a menos importante e a que tem menos espaço na duração.
FANTASTIC…
Belo filme! Estava sentindo falta dos valores conservadores no cinema e o filme rebuscou-os. A relação familiar também perpassa aos atores e emociona.