Uma experiência interessante de se realizar nos cinemas na semana que vem: Trapaça estreará e será possível assisti-lo logo antes deste Lobo de Wall Street. Enquanto o longa de David O. Russell é claramente inspirado esteticamente nos filmes do Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street é o Scorsese em pessoa. E existe um choque ao compará-los.
O filme é adaptação do livro homônimo de Jordan Belfort, no qual ele relata o período que passou como corretor de valores na rua que faz parte do título. Belfort entrou na bolsa de valores com o objetivo de ficar rico e sustentar sua recém iniciada família, mas o mundo das riquezas nesse mercado foi pouco a pouco o corrompendo.
O motivo pelo qual acho interessante comparar Trapaça com esse filme é que fica clara a diferença entre simular um estilo de qualidade e criar o estilo do zero. Enquanto O. Russell fez um ótimo filme repetindo enquadramentos básicos de Scorsese, o verdadeiro os usa de acordo com o que acha adequado para cada momento do filme. A impressão é que Trapaça é uma ótima experiência e Lobo de Wall Street é uma ótima obra.
O grande acerto do diretor foi fazer do filme uma comédia. Como praticamente todos os personagens são pessoas horríveis, o realizador criou o filme com seu típico melodrama. As interpretações são fortes e sem contenção. DiCaprio grita feito um condenado, assim como todo o resto do elenco. Não vai ser raro durante a projeção ver o rosto dos atores avermelhados pelo esforço de estar gritando.
A comédia surge justamente desse melodrama e exagero. Como os personagens estão constantemente usando drogas para conseguirem se estimular durante os dias de trabalho na bolsa, eles estão constantemente acelerados e ensandecidos. Eles roubam, influenciam ações e abrem empresas fantasmas para ganhar e lavar dinheiro. Então o ritmo do filme e da direção de Scorsese simula essa loucura contínua.
Daí vem outro acerto, o elenco. Tirando DiCaprio e outros poucos atores, a grande maioria dos intérpretes são comediantes. Eles sabem improvisar aqueles exageros e aumentam os absurdos de cada momento. Principalmente o Jonah Hill, que está tão solto em suas improvisações que aqui e ali é possível ver atores tentando segurar a risada ao seu lado, incluindo o Leonardo DiCaprio. Sem contar que o comediante cria um personagem cheio de pequenos detalhes em seus gestos que criam profundidades sobre quem ele é por baixo daquela fachada.
Além de Hill, temos ótimas participações de outros comediantes como os diretores Rob Reiner e Jon Favreau (que também são atores de comédia) e diversos coadjuvantes facilmente reconhecíveis do gênero.
Para o elenco que faz mais coisas sérias, é preciso dar destaque para as participações de Matthew McConaughey (assustadoramente magro), Margot Robbie (com direito a nudez frontal), e Jean Dujardín.
Como todos os personagens são pessoas terríveis, seus atos ilegais e errados ganham conotações absurdas, causando risadas do começo ao fim. O humor vindo de pessoas detestáveis cria a possibilidade para que eles possam fazer piadas politicamente incorretas. Em certo ponto Belfort tem uma reunião extremamente séria com seus sócios sobre as políticas de tratamento a pessoas de baixa estatura. É uma sequência de comentários preconceituosos que seriam chocantes caso fossem ditos por alguém de boa índole.
É um recurso brilhante. A cada piada de mal gosto, temos mais motivos para desgostar dos personagens. Ao mesmo tempo, por serem tão divertidos e engraçados, despertam empatia. Principalmente com o tanto de diversão descontrolada que eles tem. E é divertido assisti-los se divertindo. O resultado é que sentimos empatia pelo que todos fazem no filme, mesmo sabendo que é tudo errado e ruim. Literalmente, entendemos as ações e as motivações.
Como todo ato negativo traz consequências, o filme chega à parte em que Belfort é obrigado a lidar com a realidade com seriedade. O diretor vai apresentando essa seriedade aos poucos através do personagem do agente do FBI que pretende capturar Jordan. Sua vida normal é sem graça em comparação com o ritmo maluco do protagonista, e justamente por isso, ele sempre parece inexpressivo em contraste com o resto.
Por isso mesmo é um acerto colocar o ator Kyle Chandler no papel. Apesar de Chandler ser um bom ator, é bastante limitado. O diretor usa essa limitação justamente para criar esse personagem quase inexpressivo.
Enfim. Lobo de Wall Street é uma obra de um diretor que merece os créditos por suas realizações e seus clássicos. Seu único problema são as suas três horas de duração, que passam despercebidas e só incomodam por serem inconvenientes para um espectador desavisado. Vale especialmente pelo número inacreditável de cenas antológicas que acontecem uma atrás da outra.
ALLONS-YYYYYYYYYY…
Assim que eu assisti, eu corri pra cá, pq sabia q haveria uma crítica sua sobre esse filme 🙂 Fiquei curiosa pela sua opinião…mas deixo a minha. Leonardo DiCaprio é brilhante, mas o filme não. Não é pelo politicamente incorreto que não gostei…afinal, a ousadia do filme é até interessante. Não gostei da obviedade..acredite se quiser kkkk achei muito óbvias as cenas…pobreza, ascensão, riqueza, drogas, traição e daí então decadência. Eu sei que a novidade não é o roteiro, já que se trata de uma adaptação do livro, mas não achei a história digna de um filme. Enfim, eu entendi a intenção, a ousadia, etc…mas pra mim foi um besteirol americano mais elaborado, um pouco mais inteligente…kkkkk precisava desabafar! kkkkk
A proposta é ser uma comédia, né? Nenhum tipo de humor agrada todo mundo. Acho que entendi seu ponto de vista. É bom ter você de volta aqui nos comentários.
Ainda bem que é uma comédia kkkk E não deixo de dar as caras não, rapaz kkkkk 🙂
Por sinal, parabéns pelo programa na Globo. Está muito bom.
ôô Obrigada 🙂