Dezembro é época das celebrações de fim de ano. Com elas chegam aos cinemas os obrigatórios filmes de natal, ano novo, ação de graças, hanukkah e tudo o que os acompanha. De vez em quando surgem clássicos como Esqueceram de Mim ou Férias Frustradas de Natal, mas a grande maioria é descartável e é esquecida em menos de um dia.
Na véspera de natal, os integrantes da família Cooper se preparam para a reunião anual. O patriarca viúvo Bucky (Alan Alda) passa o dia com a garçonete Ruby (Amanda Seyfried), com quem desenvolveu uma forte amizade. A filha dele, Charlotte (Diane Keaton), e o esposo Sam (John Goodman) esperam o fim das festividades para avisar a todos que vão se divorciar. A irmã dela, Emma (Marisa Tomei), tenta roubar um presente para ela e passa o dia com o policial Williams (Anthony Mackie). Um dos filhos de Charlotte, Hank (Ed Helms), enfrenta um divórcio e esconde da família que está desempregado. A outra filha, Eleanor (Olivia Wilde), enrola para chegar à festa no aeroporto enquanto flerta com o desconhecido Joe (Jake Lacy).
Filmes de natal podem corresponder a diversos gêneros diferentes. Existem as comédias, os de horror e os dramas. O Natal dos Coopers corresponde à última categoria. O filme busca fazer um mergulho nos pequenos traumas individuais que surgem em uma família grande. Os irmãos que são preteridos em favor do outro mais talentoso, os casais que se afastaram emocionalmente enquanto criavam os filhos, a filha que sofre a pressão de não ter casado e dado netos para a mãe. Tudo com uma dose pesada de análise psiquiátrica.
Rags, o cachorro da família é o protagonista principal do filme.
O roteirista Steven Rogers só escreveu dramas com doses de comédia e muito melodrama. Ele escreveu coisas como P.S. Eu Te Amo e Kate & Leopold. O Natal dos Coopers é, até certo ponto, mais do mesmo. Cada razão para que os personagens se sintam tão necessitado a se afastar dos parentes é carregada de pesar. Entre diálogos nos quais cada pessoa faz análises elaboradíssimas sobre as culpas e os raciocínios uns dos outros, Rogers tenta criar simpatia através de bom humor diante de adversidade em todos os personagens principais. O recurso funciona até o momento em que ele começa a se repetir demais. As piadas começam engraçadas e passam a ficar repetitivas depois de algum tempo. Como o filme tem mais de uma hora e meia, fica longo demais. O excesso de pseudo-psiquiatria e de cinismo cansa e faz com que o ritmo da produção fique arrastado.
A diretora Jessie Nelson faz uma direção correta e inexpressiva. Acerta nos planos e contraplanos e consegue planejar os movimentos de câmera para bons cortes. A montagem faz bom proveito disso. Em cena na qual Sam e Charlotte discutem o casamento em um mercado. A câmera os acompanha diante do carrinho. O diálogo continua, mas um corte os reencontra detrás da próxima curva do corredor. Não há mudança de tempo, é apenas uma elegante transição de takes diferentes de uma mesma cena.
O grande acerto de Nelson é no trabalho conjunto com o diretor de arte Gregory A. Weimerskirch. Eles preenchem o cenário com as cores principais do feriado, verde e, principalmente, vermelho. Todos os figurantes ao redor deles usam pelo menos um detalhe rubro na vestimenta. As colunas do aeroporto onde Eleanor espera a hora de ir para a casa dos pais são da cor. Eles são cercados pelo espírito de bonança e alegria do natal, mas não conseguem participar, por mais que tenham boa vontade. Hank até tenta usar verde, mas a cor no casaco dele é desgastada. É uma forma de retratar como todos esses traumas e isolamentos dos personagens os impede de vivenciarem os sentimentos natalinos. Não à toa, quando eles se reúnem, as cores começam a se infiltrar nas vestimentas.
John Goodman e Diane Keaton. Ele ofusca ela em cena.
O elenco é estelar e todos atuam à altura do que os nomes em conjunto prometem. O John Goodman engole a Diane Keaton sempre que dividem a cena. Diversas atrizes estão apagadas devido a papéis fracos, como a Olivia Wilde e a Amanda Seyfried, mas a Marisa Tomei consegue dar vida até a uma mulher cuja vida se resume a uma relação com a irmã. Um dos maiores destaques entre o elenco é o ator Jake Lacy, que com pequenos olhares demonstra a vulnerabilidade de quem se apaixonou por alguém com quem sabe que não vai ter nada.
O Natal dos Coopers não é um clássico de natal. Na verdade, provavelmente será esquecido pelo espectador antes que a data chegue. Longo e repetitivo, cansa e perde o ritmo muito antes do final. Mas tem um bom trabalho técnico que trata os dramas dos personagens com mais sutileza que o roteiro. Apesar de bem escrito, falta sensibilidade para tentar fazer os personagens serem naturais ao tom da obra.
ALLONS-YYYYYYYY…