Como é obrigatório todo ano, no meio da leva de filmes feitos para participar das premiações de melhores do ano, aparecem alguns esquecidos por bons ou maus motivos. Eles seguem algumas das linhas obrigatórias, como neste O Que te Faz Mais Forte, que se prende na história real de superação com interpretações fortes de dois atores ótimos e já reconhecidos.
Assim, o livro que conta a história de Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal), um dos sobreviventes do atentado na maratona de Boston em 2013. Enquanto esperava pela ex-namorada Erin (Tatiana Maslany) na linha de chegada, ele viu um dos terroristas e perdeu grande parte das pernas nas explosões. Famoso por sair vivo e por ter identificado os culpados, Bauman precisou aprender a lidar com a fama que nunca desejou.
É a base do esperto roteiro de John Pollono, que não segue pelos caminhos fáceis ao não dar destaque para a força de Bauman para voltar a andar com as próteses. Na verdade, o filme é sobre a compreensão de porque ele se tornou um símbolo. Repleto de desprezo por si mesmo, ele não entendia por que a sobrevivência dele era valorosa.
E Pollono adapta esse conflito interno à estrutura clássica de três ou cinco atos (dependendo do estudioso). Bauman quer apenas a paz de não ser identificado ou vinculado ao ato terrorista, mas o que ele realmente precisa é justamente o contrário. O roteirista chega a fazer uma virada que revela a última chance para o protagonista chegar ao clímax.
As escolhas dele seriam elegantes, se grande parte da solução final escondida na mensagem do filme não fosse uma aclamação aos ideais estadunidenses. Com direito a falas estapafúrdias, como um homem que admira Bauman e fala que ele mostrou aos terroristas do mundo que o País não pode ser derrotado. Pior ainda é a revelação de um mexicano que parece reconhecer os Estados Unidos como o maior ideal a ser protegido.
Já o diretor David Gordon Green revela mais uma vez a habilidade em trafegar entre estilos e gêneros diferentes. Relativamente famoso por comédias de ação e pela amizade com o comediante e roteirista Danny McBride, ele revela uma faceta diferente aqui. Explora tons monocromáticos com imagens de focos profundos para que o espectador seja guiado a ver apenas Bauman quando o mundo comemora a presença do personagem.
Isso funciona para manter as cenas tristes mesmo que os momentos sejam de celebrações. Por outro lado, faz com que o filme também tenha apenas um tom: o melodrama. O que não é necessariamente ruim. O problema do estilo é que apresenta dificuldades para prender a atenção do espectador. Assim como as cores não têm muita variação, o sentimento em tela é sempre o mesmo. Bauman triste, com dificuldades e bêbado.
E mesmo que Gyllenhaal esteja bem nesses momentos, ele não tem espaço para dar nuance ao personagem. O mesmo pode ser dito de Tatiana Maslany, que só fica triste e preocupada. Sobra para a veterana Miranda Richardson como a alcóolatra mãe de Bauman roubar a cena com os confrontos com a possível nora.
Os destaques do filme ficam mesmo com a estrutura de roteiro esperta e a reflexão interessante. Ainda assim, pequenos defeitos impedem que a produção seja um destaque na maratona para assistir aos filmes que estão nas disputas. O que também não significa que ela não mereça ser vista.
Esta e outras críticas também podem ser lidas no site Sete Cultural.