Frozen estreou uma leva de animações no cinema que são muito importantes para toda uma nova geração de crianças. Filmes que questionam valores de masculinidade, feminilidade e passam mensagens sobre respeito à diferença. No filão, houve coisas como Malévola, Festa no Céu, e agora este Touro Ferdinando.
E que ideia boa para levantar essas reflexões de pegar o livro homônimo de Munro Leaf e Robert Lawson, que conta a história do touro Ferdinando (John Cena). O bicho se recusa a ser um animal de lutas violento por preferir sentir cheiro de flores. Nesta versão, ele foge do criadouro criança depois de ter o pai assassinado em uma tourada e cresce com Nina (Lily Day), uma garota amorosa. Adulto, ele é recapturado e levado novamente para a fila do abatedouro.
O que, claramente já levanta duas críticas. A primeira, e mais óbvia, das touradas, e a segunda do abate de animais para fazer carne. Porém, a produção nunca se torna panfletária. Não há um momento em que os animais lutam para tentar conscientizar os humanos ou o espectador, apenas uma leve sugestão do absurdo dos eventos sangrentos em nome de uma tradição que diminui os participantes.
É onde entra a grande qualidade do roteiro escrito a doze mãos: ao se recusar a lutar, Ferdinando força o mundo ao redor a mudar. Em especial, quando não se deixa levar ao ser chamado de frouxo, ou quando afirma que não há problemas em homens chorar, sorrir, dançar e buscar padrões incomuns de vida.
O diretor brasileiro Carlos Saldanha repete o que sabe fazer melhor. Assim como nos momentos hilários do esquilo Scrat na franquia A Era do Gelo, ele usa e abusa de cenas voltadas para a gag visual para criar humor. Uma das melhores envolve Ferdinando, um gigante de 900 quilos, em uma loja de pratos. O diretor usa de todos os recursos da animação tridimensional para esticar e repuxar o personagem e os objetos.
Por outro lado, falta a ele e ao estúdio de animação Blue Sky o apuro de roteiro de uma Pixar, ou o humor sarcástico da Dreamworks. Ferdinando faz rir pelo estilo de comédia que remete a curtas animados dos primórdios da animação à mão. Saldanha, diga-se de passagem, seria uma excelente escolha para fazer um curta do Papa Leguas e do Coiote Coió.
Vale dar os parabéns para a escolha do lutador de WWE como Ferdinando. Um homem imenso, Cena já provou em inúmeros papéis que sabe ser engraçado e vulnerável. Vide a ótima participação em Descompensada, onde questiona o estereótipo de masculino ao interpretar um homossexual que não sabe que tem atração por homens, e que chora ao descobrir que a namorada o trai.
Recomendadíssimo para toda uma geração de meninos, meninas e crianças de outros gêneros que podem crescer com a noção de que não é preciso se adequar a um padrão para ser uma pessoa comum. Porém, poderia ser um pouco mais curto, uma vez que o humor visual não sustenta os 108 minutos de duração.
P.S.: Assista abaixo a animação da Disney de 1937 que ganhou o Oscar de melhor curta animado também inspirada no livro do touro.
amei sua crítica! vou assistir hoje.