Marlombrando (Breno Nina) é impedido de passar a noite com a mãe, Fátima (Rita Assemany), enferma no hospital. Sem rumo, caminha até o Cine Drive-in em busca de abrigo. O pai dele, Almeida (Othon Bastos), é o dono do cinema esquecido. Enquanto ela ficar no hospital, os dois terão que conviver.
Realização da produtora Pavirada Filmes, de Brasília, o filme é o debute tanto do grupo quanto do diretor, Iberê Carvalho, no terreno dos longas-metragens. O Último Cine Drive-in é uma trama sobre perda. Ao mesmo tempo em que Marlombrando precisar lidar com a possível perda da mãe, Almeida pode perder o cinema. As duas tramas servem de homenagem ao cinema, reflexão sobre convívios familiares e solidão.
Iberê, que também é roteirista do filme, faz com que tudo o que acontece em um enredo seja espelhado no outro. O interesse de Marlombrando pelo cinema e pelo pai cresce ao mesmo tempo em que o sucesso do estabelecimento aumenta. Os diálogos são simples e comuns, assim como os personagens são pessoas “pequenas”. A projecionista é uma jovem grávida e solitária, o bilheteiro é um senhor que trabalha lá há décadas e nunca saiu do lugar. O próprio Marlombrando é um trabalhador de uma fábrica do interior.
Primeiro momento em que pai e filho se unem.
As pequenas complexidades das relações são contadas nos enquadramentos e nas interpretações. Marlombrando e Almeida jantam juntos, mas o enquadramento nunca os retém no mesmo plano ao mesmo tempo. Ao visitarem Fátima no hospital, uma enfermeira com uma notícia negativa serve de divisão na cena entre os dois. Basta isso para entender que eles não se entendem. Só passam a se dar bem quando os dois se sentam ao lado um do outro enquanto assistem um filme no cinema.
Junto da diretora de arte e irmã, Maíra Carvalho, e do de fotografia André Carvalheira, Iberê decidiu fazer com que a cor marrom predominasse. A luz torna as texturas mais palpáveis e amadeiradas. Os objetos de cena e os detalhes nos cenários e ambientes são gastos e sujos, como que abandonados. O resultado são imagens que se assemelham muito àquelas fotos antigas de álbuns de família. Tudo para fazer referência à decadência deste cinema que faz parte de uma tradição antiga da arte e se tornou esquecida após a chegada dos multiplex.
Fernanda Rocha como Paula. Personagem cheia de vida.
Iberê aproveita a referência para zombar dos filmes de grande escala e em 3D. A reação de Almeida ao tentar diferenciar a sensação com e sem os óculos é muito comum a quase todos que detestam o efeito. É também nesta cena a parte mais engraçada da produção.
Othon Bastos dá um banho em cima de quase todos os outros atores. Não que eles sejam ruins, mas não parecem tão envolvidos com o papel quanto o veterano clássico do cinema nacional. No nível dele, só a atriz recém-descoberta Fernanda Rocha, que faz Paula, a projecionista grávida. Ela consegue dar para a personagem muita vida através de pequenas inquietações entre as falas tranquilas escritas para ela.
ALLONS-YYYYYY…
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