É chocante o quanto os brasileiros podem ser alienados em relação a cinema. Este Operação Invasão foi reconhecido internacionalmente como um dos grandes filmes de ação de 2012. Em diversos países estrangeiros, o filme era recebido com muita animação. No Brasil, as pessoas sempre me perguntam do que estou falando quando falo dele.
Esquadrão de elite invade um prédio tomado por uma gangue de traficantes. No meio do prédio, são descobertos pelos bandidos e ficam presos enquanto todos os criminosos do edifício os cercam.
A trama se assemelha com outro filme não americano do mesmo ano. Dredd colocava o personagem dos quadrinhos em um prédio-quarteirão tomado por uma gangue de tráfico. Os dois filmes estavam entre os melhores de ação daquele ano. Mas as diferenças acabam por aqui. Dredd é um policial futurista que constrói a ação em torno das tecnologias do período fictício em que se passa. Operação Invasão é um filme de artes marciais.
Por se tratar de um filme da Indonésia, o estilo de luta utilizado é o Pencak Silat, típico do país. Como na maioria dos filmes de artes marciais, a graça é ver os atores (grandes lutadores) dando seus golpes extremamente rápidos em cenas de luta com coreografias elaboradas para cortes espertos. Faz com que o espectador consiga compreender cada movimento.
É o motivo pelo qual o filme fez tanto sucesso lá fora. Quando a indústria que produz filmes de ação em escala fordiana só libera produções com cenas de ação plásticas, com câmeras tremidas que não mostram o que está acontecendo, não é surpresa que um filme com ação tão bem preparada chame a atenção.
Como o crítico Chris Stuckman disse muito bem: “Esses caras sabiam o que faziam. Eles estavam óbvia e extremamente bem preparados para as cenas de luta. Eram fortes e capazes de fazer as coisas que os personagens fazem no roteiro.”
A diferença desse filme em relação a outros do estilo é a violência utilizada. Em Operação Invasão vemos pessoas sendo cortadas frequentemente com facas, levando tiros através do corpo, quebrando membros além de várias outras cenas bem explícitas.
Tirando o fato de que os personagens aguentam golpes demais, muito além do que um corpo humano seria capaz de suportar, o filme funciona muito bem como obra de ação. Durante a produção eu me peguei constantemente soltando exclamações de empolgação com coisas que acontecem no filme. Seja o uso de uma geladeira como uma bazuca improvisada ou a forma como um personagem usa uma faca durante uma luta, a ação impressiona.
A história não passa de uma desculpa para ver aqueles montes de socos e chutes. Justamente por isso é que a história é o ponto fraco do filme. Ela dá todas as desculpas necessárias para que os policiais não tenham reforços nem expectativas de serem salvos por alguma força externa. Envolve corrupção e uma crise entre dois irmãos, mas nada muito elaborado. Os vilões tem suas cenas de apresentação clichês para mostrar o quanto são maus, a história não faz sentido e é tudo feito apenas para torcemos para certo cara quando dois começam a lutar.
A montagem do filme também é um problema. Muitas cenas precisariam de cortes que dariam a impressão de que eventos estão ocorrendo em paralelo, mas, para dar destaque para essa ou aquela cena de ação, momentos ficam em aberto por um período longo demais. Em certa cena, dois policiais estão prestes a ser descobertos por um bandido, corta para uma luta que está acontecendo no mesmo instante. A cena da luta dura alguns minutos e de repente volta para o bandido, dando a impressão de que ele ficou parado em pé por vários minutos sem se mexer.
Mas é quando os atores começam a brigar que o filme mostra a que veio. Ação bem feita e conduzida. Nada mais, nada menos. Poderia ter se esforçado mais em outras áreas da produção, mas funciona muito bem para o que se propõe.