É difícil ver a proposta deste Operação Overlord e não esperar algo diferente de um filme de terror trash. Afinal, nada mais justo quando se mistura nazistas com zumbis. Mas este filme chega com a mesma surpresa com que o Tubarão de Steven Spielberg tomou os cinemas na década de 1970. É uma história B, mas com produção de qualidade A.
Quando o soldado Boyle (Jovan Adepo), um paraquedista americano que cai em território francês tomado pelos alemães nazistas durante uma missão, descobre a verdadeira natureza por trás dos laboratórios para onde cadáveres são levados, já se passou metade do filme.
O que é fundamental para a proposta dos roteiristas Billy Ray e Mark L. Smith junto com o diretor Julius Avery. Refletir que o horror de monstros inexplicáveis não é maior que o horror da guerra, além de criar um filme que misture os estilos de maneira divertida.
Leva cerca de 50 minutos para a primeira criatura aparecer porque Avery está ocupado em construir tensão com a guerra. Desde a primeira cena em que Boyle é arremessado para fora do avião em chamas, até o desespero ao ter que escapar sorrateiramente de uma base inimiga, Boyle vê o pior do que os humanos foram capazes de fazer na Segunda Guerra Mundial.
Ocorre na tela um desfile de tortura, mortes violentas, tentativas de estupros e muito sadismo. E Avery não deixa brechas para respiro. Em certos momentos, até faz com que as situações sejam reveladas por planos longos e complexos. Quando o avião entra em chamas, a câmera não corta até que Boyle toque a superfície de um lago. Tudo com closes no rosto do personagem em desespero enquanto o caos se desenrola por trás deles.
Por trás disso, há o melhor em termos de efeitos especiais que o dinheiro de Hollywood pode pagar. As roupas, os cenários e a maquiagem são realistas para dar a sensação de verossimilhança de um filme de guerra. O mesmo ocorre com as explosões, as armas, os barulhos de tiros. O horror e a tensão são constantes.
Aqui e ali, pequenas pistas de coisas absurdas (e portanto, engraçadas) deixam a noção de que tem algo errado naquela vila francesa. Primeiro são ruídos guturais de uma senhora doente. Depois uma desculpa dos alemães de usar uma propriedade química do solo francês para matar os cidadãos da cidade. Então, quando um colega assassinado de Boyle se levanta após ser injetado com uma fórmula, não é necessariamente uma surpresa.
E Avery não deixa o ritmo de terror e de tensão acabar. Os alemães são maldosos e cruéis de forma maniqueísta o suficiente para que o espectador os odeie e queira ver a morte deles. Mesmo que tenha um cadáver ambulante aqui, o capitão chucrute que foge pela escada é mais preocupante.
O que também é ressaltado pelo roteiro esperto, que não mostra com texto ou com um personagem falastrão que a ação se passa em 1944 na véspera do dia D. O espectador pode concluir isso por meio da história e por um soldado que risca em uma parede a vontade de deixar um sinal de que existiu no mundo.
O mesmo é feito para apresentar os personagens. Sabe-se que Boyle é bom além do ódio contra o inimigo por causa de uma história relacionada a um rato no treino dele. Ou que Chloe (Mathilde Ollivier) é mais que uma francesa indefesa quando ela manipula tanto alemães quanto americanos ao aparecer em cena.
Assim, o que o espectador vai ver em cena é algo completamente diferente do que ele possa esperar. Mais que um filme de guerra ou um trash de zumbis, é uma produção que realça o horror dos dois ao misturá-los de forma realista e sem se deixar cair no ridículo. É novo e surpreendente, o que é sempre válido. Principalmente quando a tensão constante carrega o ritmo até o fim.