A Segunda Guerra Mundial é marcada pelo horror do holocausto, que precisa ser lembrado constantemente para que as gerações futuras nunca esqueçam dos erros do passado. Em termos de histórias narrativas, porém, isso gera um problema grave. Por mais que o conflito tenha gerado milhares de grandes histórias humanas, fica cada vez mais difícil contar uma com algo novo a ser dito.
Este filme, assim como o livro homônimo do qual ele é adaptado, segue a jornada dos irmãos Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) Joffo depois que os nazistas ocupam a França. Eles são de uma família de judeus em Paris e precisam se separar dos pais diversas vezes para aumentar as chances de sobreviverem enquanto fogem através da Europa.
Como se trata da história real tal qual ela foi descrita por Joseph na versão literária, a produção acompanha o ponto de vista do garoto mais novo. O que indica a proposta de diferencial: um filme sobre a guerra na perspectiva de crianças. Um olhar infantil, mais inocente, de um dos maiores horrores da humanidade.
Seria muito interessante, se tivesse a coragem de se adaptar para uma narrativa de cinema. Porque o roteiro, escrito por cinco pessoas, se divide em vários episódios das jornadas dos irmãos. Por meia hora, eles têm que viajar sozinhos até certa cidade. Este ciclo tem começo, meio e fim, com direito a cena de família feliz na praia depois de uma história fechada.
Então começa o próximo capítulo, com outra ocupação dos nazistas em outro lugar e os dois obrigados a se separar dos pais mais uma vez. Até pequenas soluções e conflitos pontuais se repetem, como ajuda de padres para enganar os nazistas com documentos falsos. Isso faz com que a narrativa não prenda o espectador através da produção.
E a direção de Christian Duguay não ajuda. Ele tenta criar tensão com momentos em que os meninos estão em perigo de ser capturados, mas poucas vezes funciona porque parece haver uma necessidade de fazer com que os nazistas sejam todos encarnações do mal. A um nível em que Duguay faz uma cena ridícula em que um coronel cria uma armadilha para provar que Joseph e Maurice são judeus.
Para isso, o vilão faz um padre de bom coração assistir a cilada enquanto come pão. O diretor corta entre closes do nazista mastigando a comida, para o suor que corre no rosto do religioso, para os garotos enquanto pensam no que fazer. É tão maniqueísta e óbvio que não consegue criar ambientação necessária para a tensão que deveria existir na cena.
Com isso, um filme de menos de duas horas parece ter umas três. Nem bons atores como Patrick Bruel não salvam porque são forçados a seguir a cartilha melodramática da direção e do roteiro. Não é à toa que a melhor cena do filme ocorre no único momento em que um grupo favorável aos nazistas é demonstrado com alguma humanidade.
Os Meninos que Enganavam Nazistas é mais um melodrama de guerra sem originalidade. Infelizmente ele é importante como todas as manifestações culturais que lembram como certos pensamentos são errados. É feito para chorar, e não para pensar.