O trailer de Os Suspeitos prometia apenas um suspense policial inexpressivo. Câmeras estáticas e o tom monocromático davam uma ideia de um filme monótono. Fui para a cabine esperando isso, um drama sobre um pai buscando justiça com as próprias mãos, sem muita história. Felizmente, me deparei com um filme que se assemelha bastante com os melhores episódios de Law & Order: Special Victims Unit.
Duas famílias se reúnem uma tarde. De repente percebem que as duas meninas mais novas desapareceram. Aos poucos fica a certeza de um sequestro. Quando o primeiro suspeito é liberado, um dos pais resolve sequestra-lo para conseguir respostas.
O filme se divide entre dois gêneros. O filme policial e o drama familiar. O que não é nada novo. Mas o diretor Denis Villeneuve (do reconhecido Incêndios) prepara um golpe para seus espectadores. Os Suspeitos é uma aula de tensão e quebra de expectativas.
Trata-se de um filme minimalista. Villeneuve economiza nos recursos técnicos. As câmeras praticamente não se movem, as luzes são brancas e difusas, a trilha é quase inexistente, as atuações são contidas. Cria uma realidade muito natural. É possível ver aquelas pessoas como gente comum, do tipo que todo mundo conhece.
Acompanhamos a rotina também comum deles. A forma como se movem pela casa, como se comunicam, as falas. Tudo exalta uma sensação familiar. Enquanto eles se preparam para comer o primeiro veado caçado pelo primogênito de uma das famílias, um trailer fica estacionado na rua.
O automóvel começa escondido nos enquadramentos cuidadosos, sempre jogando um tanto de luzes vermelhas no cenário. Até que as crianças interagem com ele. Então elas somem e fica a certeza de que estava envolvido. O problema é que o motorista é um jovem que possui a mente de um infante de 10 anos. Seria impossível para alguém em suas condições planejar e realizar aquele crime.
Corta então para o detetive encarregado do caso. Ele conduz a investigação com eficiência e esforço. Daí para a frente, a história se divide entre o pai que sequestra o motorista misterioso para tentar arrancar dele o lugar onde a filha está e o detetive.
Mas pistas vão surgindo e deixando o caso cada vez mais estranho. Começa com um padre desmaiado, passa para um homem estranho vigiando a casa das vítimas e fecha com uma frase dita por uma criança. As evidências não parecem se encaixar e indicam um caso maior do que o simples sequestro. Principalmente com o número de suspeitos prováveis que aparecem.
A princípio não gostei da trama do pai. Mas no final ela faz sentido. Vemos um homem de bem, religioso e protetor se deturpando e virando esse monstro. Sempre em nome das boas intenções. Ao final do filme, dizem uma frase para ele e compreende-se a motivação dos criminosos.
É o que acontece com um filme bem fechado. Todas as pistas se encaixam e todos os mistérios são resolvidos com cuidado e paciência. Por isso mesmo é um filme longo. Duas horas e meia aumentando cada vez mais o suspense e a tensão. Sem nunca cair em lugares comuns.
O pai não vai virar o típico herói de ação. Fazer o que ele faz não o transforma em um ser admirável, mas o destrói por dentro. As cenas de suspense, como o momento em que um desconhecido invade uma casa, nunca levam a algo que estamos esperando. Não temos grandes sustos, mas muitas surpresas.
Tudo com grandes sacadas de Villeneuve, que não procura fazer os maiores planos da história do cinema. Ele usa imagens simples, mas de forma a manter a ambientação fria e calma, o que deixa tudo ainda mais tenso. Nunca se sabe o que vai acontecer em um mundo tão verossímil que fica a impressão de vida real. O mais assustador é que esses tipos de crimes realmente existem.
O único problema que tive foi com um tanto de coincidências que acontecem. Várias das pistas importantes para o desenvolvimento da trama são descobertas justamente porque o detetive resolveu seguir uma linha de investigação nova. Mas todas estiveram ali durante anos. Coisas que poderiam ter sido descobertas muito antes, são convenientemente encontradas porque o policial foi visitar um padre na hora certa ou porque uma menina consegue fazer o que dezenas de crianças não conseguiram antes.
Os atores estão demais. Principalmente os dois primeiros nomes. Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal criam dois homens viscerais. O eterno Wolverine faz isso sem perder uma vulnerabilidade, algo difícil de equilibrar com a brutalidade contida do personagem. Gyllenhaal faz um trabalho de voz interessante, que dá bastante truculência para o personagem. São homens duros, que precisam tomar atitudes duras naquelas situações extremas. Destaque também para o ótimo Paul Dano, muito bem em cena como o adulto com mente de criança.
Uma grande pérola cinematográfica. Merece ser visto e sentido pelos espectadores como o golpe forte no estômago que é.
GERÔNIMOOOOOOO…
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