Todo mundo está indo assistir Ninfomaníaca, Confissões de Adolescente ou a última baboseira Paranormal. Lá no canto, entre as estreias, estava bem discreto e tímido este filme. Produção japonesa que chamou bastante atenção em Cannes no ano passado, Pais e Filhos levanta diversas questões sobre paternidade e educação.
Através da história de duas famílias que descobrem que tiveram seus filhos trocados na maternidade, o filme levanta mil e uma reflexões interessantes. Afinal de contas, o que significa ser um bom pai? O que significa descobrir que a criança com a qual você conviveu e aprendeu a amar era pra ser apenas um desconhecido?
São questões cruéis. Principalmente quando a outra família educou seu filho biológico com conceitos e valores opostos aos seus. A trama é mostrada do ponto de vista de Ryota Nonomyia. Um pai rígido e severo que sacrificou muito na vida para ter uma carreira sólida. Então ele é duro com o filho na expectativa de que a criança venha a ser um sucesso como ele.
Quando ele descobre que esteve criando o filho biológico de um casal pobre e, como o advogado dele descreve, negligente, ele toma uma decisão: criar as duas crianças. Ele é rico, tem carinho pelo menino que criou até então. Ao mesmo tempo quer que seu rebento natural também tenha uma grande educação.
É onde entra o questionamento. Ryota pode ser rico e ter dinheiro para dar a melhor educação possível, mas ser indiferente e distante pode ser muito pior que não poder dar essas coisas. O filme é sobre isso, a jornada de Ryota para descobrir como ser um bom pai. Para isso, precisa aprender a não ser preconceituoso e até a ficar em paz com seus próprios pais.
Em paralelo, as duas mães sofrem com a ideia de não terem reconhecido seus bebês. Significa que elas não os amavam de verdade? Significa que são mães ruins? É um golpe e tanto em características específicas que são consideradas representações da feminilidade.
O pai mais pobre não parece estar muito confuso com a situação, apenas acata as ordens da esposa e quer aproveitar a oportunidade de ganhar dinheiro do hospital em um processo. Mesmo assim, ele é um pai carinhoso e gosta muito de passar o tempo com os dois meninos.
Parece uma grande novela, mas o filme trata tudo com muita naturalidade e também com contenção. O Japão é um país onde as pessoas precisam ser contidas e disciplinadas. Com tanta contenção de sentimentos e emoções em uma situação tão drástica, os menores momentos se tornam mais impactantes. Quando as pessoas não podem gritar ou brigar, seu poucos momentos de emoção são mais poéticos. O filme explora isso de forma muito bonita.
Quando uma das mães segura uma lembrança do filho ou quando o pai descobre que a criança que criou tirava fotos dele escondido é quando o filme emociona mais forte. É ótimo ver uma produção que trata isso de uma forma tão diferente em comparação com os melodramas aos quais estamos acostumados.
Só pela quebra com o padrão, já merece uma assistida. E por ser bem realizado nesse sentido, o faz ainda melhor.
FANTASTIC…