Em algum ponto de 2013 Matthew Weiner, criador, roteirista e diretor de Mad Men, fez um filme que contava com a presença de três grandes nomes da comédia estadunidense. O filme só chega por aqui agora. O motivo para esse tipo de atraso normalmente é fracasso de bilheteria. Neste caso, soma-se o fato de que Weiner queria fazer um filme sobre tudo e o resultado final foi nada.
Steve (Wilson) é um apresentador de jornal que lê a previsão do tempo. Ele gasta todo o dinheiro que recebe em maconha e no sustento do amigo de infância Ben (Galifianakis), que sofre de transtorno bipolar e de crises esquizofrênicas. Quando recebem a notícia de que o pai de Ben morreu, voltam para a cidade de interior onde cresceram para o enterro. Na leitura do testamento, Ben recebe a pequena fortuna que o pai possuía graças a uma pequena loja. Por conta da herança, os dois precisam ficar algum tempo na casa de Victoria, (Ramsey) última esposa do falecido, que nunca chegaram a conhecer antes e é da mesma idade que eles.
Tem de tudo aí. Patologias psiquiátricas, drogas, luto, briga por herança e romances que remetem imediatamente a tragédias gregas. Mas o mais confuso de tudo isso é que o foco da narrativa é tratar de uma ideologia bucólica em que se defende uma espécie de retorno e adoração à natureza e à cristandade. Ou seja, não há realmente uma conexão entre todos os conflitos e a mensagem que a história se predispõe a passar.
O roteiro segue um estilo que não é incomum. Protagonista é uma pessoa cheia de defeitos, próximo ao terrível, que vai aprender durante a história a ser uma pessoa melhor. Steve leva uma vida regada a sexo e drogas. O único contato humano sólido que possui é o amigo problemático. Ao conhecer Victoria, não pensa que é a viúva de um homem que conheceu e é pai do amigo. Apenas vê mais uma mulher bonita para fazer sexo. O convívio e os valores do interior o transformarão. Isso em contraste com os problemas de Ben, que se recusa a tomar os remédios que a condição pessoal exige porque é paranóico, sociofóbico e acha que um “sistema” maligno domina o mundo e precisa ser derrotado. Enquanto um aprende a se desapegar do materialismo, o outro sai da alienação profunda e aceita o mundo capitalista.
Os conflitos familiares levam o melodrama até os tribunais.
Em meio a este desenvolvimento, o filme não se decide se é contracultura ou conservador. Ele aborda a beleza da religião como modo de escapar das falsidades, como sexo sem compromisso e drogas. O que resulta em um momento constrangedor no qual Steve escuta: “Eu não uso químicos que interferem nos meus sentimentos”. Ao mesmo tempo, a trama ridiculariza o vegetarianismo. Inclusive, cria uma cena bizarríssima em que um animal é abatido. Pretencioso, Weiner acha que faz um filme panfletário para causas globais, mas parece apenas bobo. Principalmente quando se perde no melodrama das interações entre o trio principal, construído em cima de uma ingenuidade que incomoda.
Por outro lado, acerta no retrato da situação de Ben. A forma como ele age antes e depois do tratamento condizem com a realidade do transtorno bipolar. A ideia de que a doença os faz especiais e a depressão de que o mundo é apenas ordinário com a medicação são muito parecidas com o que acontece de verdade.
Weiner é um péssimo diretor de comédia. Mesmo com atores bons do gênero e um roteiro com humor sutil e inteligente, o timing das cenas estraga as piadas. Muitas surgem em situações sérias e o contexto impede o riso. A comédia disputa espaço com o drama de novela, a panfletagem e a história sobre a mentalidade de Ben. Os três não condizem em tom e se anulam.
Laura Ramsey. Linda de morrer.
Owen Wilson está bem, mas não faz rir, como era capaz uma vez. Zach Galifianakis brilha como Ben. O desespero no olhar dele é sincero. Ele parece desesperado com o mundo tanto porque este está perdido quando não toma o remédio, quanto porque não há uma realidade especial na qual acreditava depois de medicado. A Amy Poehler merece papéis melhores que este. Ela é apenas uma ponta que não tem muito significado para a história como um todo. Quem surpreende é Laura Ramsey. Uma mulher linda que todo mundo vai reconhecer de algum lugar, mas não vai ser capaz de dizer de onde. Ela se entrega ao papel da Victoria com toda a ingenuidade que ele exige. Infelizmente, essa ingenuidade faz o filme parecer tolo.
Roteiro sem foco, direção sem ritmo, atuações sem inspiração e prepotência na mensagem. Para o que Der e Vier não sabe a que veio e não consegue ser mais do que entediante. Se você for vegetariano ou apenas tem incômodo com a ideia de que animais são mortos para alimentação, fique longe. A cena do abate não é de fácil digestão.
ALLONS-YYYYYYYYYY…