Qualquer cinéfilo se depara com aquele momento em que o diretor cuja obra adora dá uma derrapada. Ninguém é perfeito, assim como nenhuma carreira. No caso de Alexander Payne, parece que esta barreira finalmente o alcançou com a produção que talvez seja a mais ambiciosa dele.
Ironicamente, a trama trata justamente do encolhimento de Paul Safranek (Matt Damon), que quer dar a melhor vida possível para a esposa, Audrey (Kristen Wiig), e percebe que uma alternativa pode ser um novo processo de miniaturização de pessoas para o tamanho médio de 12 centímetros. Eles gastariam menos com tudo, o que faria o pouco dinheiro que têm valer muito mais. Mas ela desiste na última hora e ele é forçado a viver pequeno e sem metade do pouco dinheiro que achava que tinha.
Quando se considera a carreira de Payne, já se pode esperar algo intimista sobre um homem em uma descoberta pessoal. E convenhamos, é o contexto perfeito para isso. Mas o diretor e roteirista (junto com o parceiro de longa data Jim Taylor) tem objetivos maiores. Assim como, na trama, a tecnologia de encolhimento foi criada para impedir a superpopulação e salvar o planeta da devastação humana, o filme se foca apenas nisso.
Precisa de pouco mais de meia hora para que o espectador perceba que Paul não vai redescobrir razões para viver na vida diminuta. Como o próprio vizinho de cima do personagem, Dusan (Christoph Waltz) deixa claro inúmeras vezes, ele é patético demais para ser capaz de fazer escolhas.
É exatamente assim que o protagonista é desenvolvido. Coisas acontecem e ele apenas segue com a maré, sem jamais escolher nada. Da mesma forma, sem aprender nada sobre si, sobre a situação em que se encontra, e sem apresentar desenvolvimento. Em poucas palavras, Paul é desinteressante, assim como a própria história dele é.
Assim que ele é encolhido, o roteiro força inúmeras coincidências para que ele seja conduzido para situações absurdas. Em certo ponto, substitui a empregada chinesa extraditada para os Estados Unidos, Ngoc Lan Tran (Hong Chau), por falta de jeito. Em outro, está em um barco na Noruega para traficar vodca. Em nenhum ele teve escolha ou os rumos da história acrescentaram para o desenvolvimento.
Essa sensação de que o roteiro força volta no terceiro ato, quando surge uma escolha para Paul. E mais uma vez, o próprio filme zomba da inatividade do personagem através de Dusan. Ainda mais porque a escolha é focada em um questionamento inocente demais relacionado com a responsabilidade humana com o planeta.
Dito isso, Payne faz um excelente trabalho de ambientação para o contexto de ficção científica. Ele mostra desde a descoberta da miniaturização até a chegada da tecnologia a Paul depois de anos com ambientes de aparência asseadas devido ao uso de brancos e tons sóbrios. Sempre a com uma música semelhante a uma valsa clássica que dita o ritmo da montagem. Com isso, os eventos parecem passar como em um balé coreografado.
A produção também tem como ponto forte a qualidade técnica com que faz com que os personagens realmente pareçam diminutos. Inúmeras trucagens existem atualmente para isso, mas todas envolvem um planejamento e um domínio de cena detalhados. O que rende momentos belos e que dialogam bem com a estética escolhida para a história. Especialmente com rápidos pontos de humor espalhados em toda a duração.
Quem mais se destaca neste sentido é Waltz, que faz com que Dusan sirva como âncora da realidade do filme ao interpretar cada comentário sobre a vida minúscula seriamente. Mas também está solto como um bon vivant que zomba de tudo que existe ao redor.
Damon também faz um excelente trabalho como um homem patético. O ator chegou a ficar fora de forma e ganhar alguns quilos para o papel. Dono de uma capacidade extraordinária de acertar todas as cenas tecnicamente, ele enche a pobreza da personalidade de Paul com vida.
Mesmo o talento e apuro técnico típicos de Payne não são capazes de salvar uma trama capenga e mal escrita. Ainda assim, o diretor faz com que a péssima história pelo menos passe rápido e sem entediar o espectador com um bom ritmo e momentos divertidos. Que ele faça mais Nebraskas, e menos Pequenas Grandes Vidas.