Peter (Levi Miller) é um menino órfão na Inglaterra que é sequestrado durante a noite por piratas a bordo de um navio voador. Levado para uma ilha fantástica chamada de Terra do Nunca para trabalhar como escravo para o pirata Barba Negra (Hugh Jackman), ele foge com outro prisioneiro chamado James Gancho (Garret Hedlund). Peter descobre que pode ser o escolhido de uma profecia antiga e se une à princesa Tigrinha (Rooney Mara) para descobrir sobre o passado da mãe que o abandonou no orfanato.
Prólogo da história clássica do J. M. Barrie, este Peter Pan não tenta reinventar o personagem Peter Pan. A ideia é apenas contar um capítulo diferente dentro daquele universo. Além de ser um conto para crianças com reflexões acerca do medo de envelhecer e relações parentais, o filme se propõe a ser uma aventura infantojuvenil com estilo oitentista.
O roteirista novato Jason Fuchs cria momentos e interações que correspondem ao propósito. As cenas de ação envolvem os personagens em perigos que parecem terminar até se revelarem maiores que anteriormente e finalmente acabar com um momento espetaculoso. Na fuga do aprisionamento do Barba Negra, eles começam com um plano que falha no primeiro passo, então escapam com uma ação perigosa que os metem em uma perseguição aérea com barcos piratas. Sem noção de como dirigir um navio, escapam de um choque ao virarem de cabeça para baixo e ficarem pendurados. Tudo pontuado com piadas relacionadas às características específicas de cada personagem envolvido.
Tigrinho e Gancho. Quase uma Leia e um Han.
Os três protagonistas possuem defeitos individuais. Peter não tem confiança em si e por isso falha com todos que dependem dele. Gancho é egoísta e quer mais escapar da ilha que ajudar Peter e os companheiros. Tigrinho acredita tanto em Peter como o herói da profecia que mente para convencê-lo a ajudar. Esses problemas de personalidade deixa os heróis mais ricos e simpáticos quando tentam crescer como pessoas. A primeira demonstração de altruísmo sincero de Gancho é comovente, assim como a tentativa de vencer o medo de altura de Peter e o momento em que Tigrinho se coloca na linha de frente da batalha e não conta com um salvador estrangeiro misterioso.
Incomoda a necessidade de criar uma trama focada no clichê do “escolhido”. Mas Wright ganha pontos ao garantir que Peter não seja o único herói da trama. Ele é o escolhido a unir as pessoas, e não a matá-las. Também fica um pouco óbvia como o trio principal é um espelho do trio Luke Skywalker, Han Solo e Leia Organa de Star Wars. O Capitão Gancho é tão parecido com o personagem clássico do Harrison Ford que até a participação dele no clímax é semelhante. Tigrinho, por outro lado, é uma versão segura e ativa da princesa Leia. Mesmo que exista a necessidade de mostrar a barriga na vestimenta.
Joe Wright abraça o ritmo de diversão e aventura para crianças e não se preocupa com um ritmo mais lento. Velocidade é a palavra de ordem. Em meio a coisas que podem parecer bizarras à princípio, como as duas vezes em que Peter é chutado por adultos ou as alturas enormes das quais os personagens com frequência caem sem se ferir, tudo serve para este universo fantástico. Não é para ser realista ou verossímil, mas divertido, colorido e com um gostinho de conto de fadas. Nisso, o design de produção é fundamental. Tudo o que aparece em tela é de grande beleza e rico em detalhes. Basta ver as vestimentas e arquiteturas do índios da Terra do Nunca. Elas são inspiradas em artes indígenas reais, mas não são realistas.
Os efeitos digitais são primorosos e servem para enriquecer o design. Mas Wright não tem domínio com a linguagem de computação gráfica e não utiliza enquadramentos nos quais os elementos reais interagem com os cenários digitais grandiosos. O contraste entre um plano com coisas reais e outro com coisas criadas em computador destaca o que é falso, por mais bem feito que seja.
Hugh Jackman como Barba Negra. Humanidade em pequenos olhares.
A trilha sonora orquestrada do John Powell é vergonhosa. Em momentos parece uma cópia do Hans Zimmer com menos riqueza. Em outros, comenta situações cômicas que não precisam de toques musicais. O acerto da parte musical provavelmente é mais por conta de Wright, que coloca músicas dos Ramones e do Nirvana de forma pontual e divertida.
O menino revelação Levi Miller é muito bom. Simpático, ele equilibra os medos e coragens de Peter sem nunca deixar de ser natural. O Garret Hedlund parece canastrão, mas os trejeitos exagerados são propositais para fazer referência aos filmes de estilo que a produção tenta homenagear. Rooney Mara nunca esteve tão encantadora e tem uma personagem feminina forte e autossuficiente. Nada que ela não tenha dominado anteriormente. Mas o destaque é todo do Hugh Jackman. Com um personagem bidimensional, ele consegue criar profundidade em pequenas interações, como a cena em que Barba Negra demonstra no olhar todo o medo de morrer ao saber que Peter pode ser o profetizado a matá-lo.
Bobo e divertido, Peter Pan é uma aventura que dialoga bem com o imaginário infantil sem entediar os pais. Apesar de diversos detalhes técnicos que seriam melhores com um diretor mais experiente com a escala da produção, Pan ainda mantém o padrão de qualidade das produções do Joe Wright. Ótimas.
ALLONS-YYYYYYYYY…
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