De vez em quando ouço discussões de pessoas dizendo que não gostam de trailers porque acreditam que os materiais de marketing contam todo o filme. Nesse sentido, a distribuidora que fez o trailer de Philomena está de parabéns. É impossível prever qualquer coisa do filme através dele. As únicas informações que podem ser tiradas dali são a sinopse, algumas piadas e o estilo da produção.
Em 2003 o jornalista Martin Sixsmith saiu da assessoria do governo britânico por conta de um escândalo. Antes desse cargo, ele foi um jornalista importante da BBC. Desesperado e desempregado, aceita fazer uma matéria de interesse humano, que não é a sua área de interesse. Ele, então, parte atrás do filho tomado de uma mulher 50 anos antes.
Interesse humano pode não ser a área mais chamativa para um jornalista, mas com certeza é atraente para o cinema. Só de ouvir a sinopse do filme já ficamos interessados no drama de Philomena. Obrigada por conceitos religiosos a abrir mão de sua criança, ela sofre todos os dias pensando no filho, mesmo depois de cinco décadas.
Logo de cara o filme causa um estranhamento porque apresenta Sixsmith, e não a personagem título. Pouco a pouco foi ficando claro que, apesar de a trama do filme girar ao redor da busca daquela pessoa, o filme é sobre Sixsmith. Cínico e possivelmente depressivo, ele não acredita em nada e a ideia de carregar aquela senhora através de países o incomoda profundamente.
O convívio com Philomena o transforma mais do que a descoberta do que aconteceu ao filho a transforma. Ela é uma idosa católica, com uma visão de mundo bem simples e bondosa. Gosta de romances bobos de aeroporto e acredita piamente que existe bondade nas pessoas que venderam seu bebê.
Para Sixsmith isso é inacreditável. Rapidamente ele compreende que o menino foi tomado dela por conta de preconceito religioso e mais rápido ainda percebe que foi uma freira em especial que o fez em troca de dinheiro e aparências políticas. Como é que Philomena pode estar tão em paz com aquelas pessoas?
No caminho dessas descobertas, os dois discutem crenças, paz de espírito, perdão, homossexualidade, obesidade e educação entre outros temas. Sempre com a visão simples e aparentemente ignorante de Philomena e o olhar julgador do repórter. Fica mais e mais fácil de perceber que mesmo com toda a sua educação e inteligência, Sixsmith não possui a mesma sabedoria que aquela mulher.
Daí saem as duas grande sacadas do filme. Primeiro, o roteiro que não se deixa cair no melodrama. Philomena sabe que sua busca não é muito influente para a vida de seu filho e que as pessoas ao seu redor não se importam muito com ela. E Sixsmith sabe que a matéria pode não ter muita relevância e que depende muito da própria Philomena para realizá-la.
Então temos o Stephen Frears na direção. Ele sabe dar espaço para os atores e os dramas dos personagens sem ficar expondo-os demais. Compreendemos seus conflitos, vemos como os faz sofrer e a história segue adiante. Sem exageros ou melodrama. O filme parece meio frio, mas é porque os personagens sabem que suas histórias não fazem muita diferença para pessoas de fora.
Steve Coogan surpreende. Constante em comédias com participações ridículas, ele escreveu, produziu e ainda fez uma ótima interpretação de Sixsmith. Judi Dench é a potência que sempre foi. Ela some dentro da personagem e surpreende com o quanto pode ser uma pessoa tão doce e inocente.
No final, Philomena é um filme delicioso com muita reflexão escondida por trás de suas sutilezas. Merece uma assistida.
FANTASTIC…