Prêmios podem significar muita ou pouca coisa. Os críticos de cinema vão concordar, por exemplo, que o Oscar é supervalorizado. Da mesma forma que um Nobel é dado apenas para as grandes mentes que geraram mudanças significativas para o mundo. Para a literatura, o Pulitzer é algo a ser levado à sério.
Com isso, a adaptação do vencedor de 2014 que conta a história de Theo (Ansel Elgort/Oakes Fegley), chega cheia de expectativa. Ele sobrevive a um atentado terrorista no museu Metropolitan que mata a mãe. Nos escombros, resgata e leva consigo o quadro O Pintassilgo. A passagem dos anos o transforma e também a relação com a obra de arte roubada.
Ao mesmo tempo em que o Pulitzer funciona inicialmente como ferramenta de divulgação do filme, também carrega consigo a maldição da expectativa. Além dos realizadores John Crowley na direção, Peter Straughan no roteiro e Roger Deakins na fotografia com atores como Nicole Kidman, Sarah Paulson e Jeffrey Wright no elenco. É bem claro que o filme é uma aposta para a temporada de premiações.
Tanta pompa indica também uma armadilha comum nesse período do ano para alguns filmes: a presunção. A trama de superação de traumas pessoais passa por anos da vida de Theo e, em tamanha jornada, por vários episódios que não necessariamente se conectam. Mas cada um tenta levantar um debate diferente.
Então há o momento de luto e revolta com uma família parecida com a mãe, o retorno aos convívio com o pai alcoólatra, a comédia adolescente, o drama do artista que pecou contra a arte e, enfim, um misto de espionagem internacional com trama policial. Não à toa, quando o filme acabou, foi preciso de um momento de reflexão para relembrar de várias partes dos 149 minutos de projeção.
Tudo filmado lentamente, com a perfeição técnica de Deakins, mas uma falta de expressividade narrativa. É impressionante como os movimentos de câmera encontram os atores em planos bonitos sem que nada esteja milimetricamente fora de foco. Ao mesmo tempo em que é impressionante como a maioria desses mesmos enquadramentos parecem vazios de significado.
Crowley não é amador e consegue até construir rimas narrativas com a noção de mergulho e volta à superfície. Mais de uma vez, o rosto de Theo desce nas cenas para voltar a subir em outro momento da história. Mas nada disso faz com que pequenas cenas que parecem filmadas de qualquer canto do cenário deixem de incomodar.
E o diretor também sabe tirar o que precisa de seus atores. Que a Nicole Kidman é uma atriz excepcional, ninguém tem dúvida. O que chama a atenção aqui é Elgort. Sempre carismático e enérgico (vale lembrar que ele era bailarino), o ator interpreta aqui por meio da postura. São as poses de Theo que indicam os sentimentos que ele escondem por trás de um comportamento exemplar.
Certamente, O Pintassilgo não é um filme desprovido de qualidades. As boas interpretações somadas à excelência técnica ainda são um desbunde. O que incomoda, no entanto, são as escolhas de diretor e roteirista de fazer com que a história seja inchada em tempo, em tramas paralelas, e em mensagens.