Depois do primeiro filme da franquia, O Planeta dos Macacos teve quatro continuações, uma série de TV, um remake trágico e eventualmente, esta prequela. A Fox jamais vai abrir mão da série, por isso mesmo essa retomada foi tão importante. Foi um filme realmente bom que tomou a decisão correta, não anulou o clássico original nem levou a sério todas as porcarias subsequentes.
Cientista (Franco) descobre que o filhote de um chimpanzé com o qual fez experiências desenvolveu uma inteligência anormal. O símio pode ser a chave para encontrar a cura para o Alzheimer, então ele se arrisca a fazer experimentos ilegais para conseguir curar o próprio pai. O filhote (Serkis), por sua vez, vai aprendendo aos poucos o valor da união e da civilidade.
O filme é uma prequela do original ao mesmo tempo em que retoma a trama de uma de suas sequências. As incríveis maquiagens que sempre foram o destaque dos filmes dão lugar para efeitos digitais e captura de movimento. A interpretação humana por trás dos macacos continua, mas o rosto na tela é feito de forma diferente. Para manter a ideia de que o filme se passa antes dos eventos do original, pequenos detalhes sobre astronautas perdidos no espaço são colocados em noticiários aqui e ali. O mais importante é que as discussões sobre civilidade e o preconceito com o diferente são mantidos.
O grande acerto foi dar o papel de protagonista para Cesar, o macaco filhote. O filme começa mostrando a origem de sua mãe, as experiências científicas pelas quais ela passou, seu nascimento e como foi criado como parte da família do cientista Will. Com a interpretação de Andy Serkis por trás da pele do personagem, ele ganha contornos shakespearianos. Sai da condição de animal criado por humanos até líder da revolução de sua espécie.
A assustadora humanidade inserida no chimpanzé digital.
A produção é absurdamente auto referencial, com direito a mil e uma falas retiradas do original. Cesar usa uma coleira tal qual Heston usava no clássico. Luta por compreensão dos humanos como o humano fazia com os macacos no outro filme. Um personagem grita diversas falas clássicas, como “É um hospício!” ou “Tire suas patas sujas de mim seu maldito macaco imundo!”. A segunda, diga-se de passagem, se dá numa das grandes cenas dos últimos anos.
A direção de Rupert Wyatt é correta. Pode não vir a elevar o poder do roteiro, mas permite que se sinta a força do texto do casal Rick Jaffa e Amanda Silver através da projeção. A estrutura da trama permite ao espectador ficar indignado com as injustiças pelas quais Cesar passa e ainda torça quando ele começa a resposta contra a humanidade. E isso demonstra o grande trabalho por trás do texto. Quando o espectador se vê torcendo contra os humanos, é porque a construção prévia é nada menos que excelente.
James Franco foi vendido nos materiais de marketing como o protagonista por ser o grande rosto reconhecível da produção, mas ele apenas preenche com eficiência um papel importante na jornada de Cesar. A grande estrela do filme é Andy Serkis. Seu Cesar ainda é um chimpanzé com instintos primitivos, ao mesmo tempo em que é um passo além. Encontrar uma interpretação identificável neste complexo meio termo é algo admirável. Uma pena que a academia de artes não reconheceu sua performance depois da Fox tentar vendê-lo como merecedor de um Oscar.
Símio e humano. Acerto ao dar destaque para o primeiro.
Ali no canto tem o Tom Felton repetindo os trejeitos de seu Draco Malfoy ao criar o cuidador de animais que os maltrata com um tanto de sadismo. Ironicamente, as melhores falas são dele. O Bryan Cox aparece apenas por tempo suficiente para pagar o aluguel. A Freida Pinto estava tentando subir um degrau para entrar em Hollywood, mas fica apagada. Os dois humanos que realmente roubam a cena são o John Lithgow, como o indefeso pai com Alzheimer por quem Cesar nutre carinho, e o David Oyelowo, que faz um personagem detestável com pouco tempo de tela e poucas falas.
O original pode ser um clássico, mas para o público moderno este filme mais recente funciona muito melhor sem perder os valores que faziam dos materiais originais tão fortes. Ainda ganha sem o ego gigante de Charlton Heston. Principalmente quando o ator principal do filme está escondido atrás de efeitos especiais.
Uma dica rápida de vídeo. Em uma entrevista no Conan O’Brien recentemente, Serkis improvisa uma conversa entre o Gollum e o Cesar. Só para demonstrar o talento do ator para assumir os papéis que o tornaram famoso. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=1686AGAxdeA]
ALLONS-YYYYYYYYYY…
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