Em 2013, o realizador Hayao Miyazaki lançava esta animação nos cinemas depois de já ter se tornado sucesso reconhecido internacionalmente com A Viagem de Chihiro. O lançamento de Ponyo, portanto, foi realizado com atenção e expectativa. Ainda contava com uma novidade bem-vinda. Abandonava o recurso de computação gráfica da produção anterior, Castelo Animado, para seguir estilo de lápis de cor.
Em uma cidade portuária, o garoto Sôsuke encontra um peixe preso e o ajuda. Mas ele não sabe que o bichinho é, na verdade, uma das princesas dos mares. O pai dela a recupera, mas ela criou um afeto tão grande pelo menino que quer ir viver com ele. No esforço, Ponyo desperta poderes, assume forma humana e foge para reencontrá-lo. A reunião terá um custo para o mundo.
Assim como no resto da filmografia do diretor japonês, diversos temas dão o tom de Ponyo. A pureza dos sentimentos das crianças e exaltação de uma harmonia entre os humanos e a natureza. Com a crueza típica do diretor, mesmo em uma estrutura infantil, pessoas morrem e os riscos são reais.
Misturar tudo isso é um talento único de Miyazaki. Ele não busca explorar as sutilezas entre os diversos sentimentos. Apenas mantém os personagens com o máximo de uma única emoção. Ponyo ama Sôsuke e é isso. Quando estão separados, ela quer encontrá-lo. Quando estão juntos ela está feliz. O garoto, entretanto nunca se declara para ela, mas basta que ela precise para que ele aja. Não existe mau humor ou tempo ruim. Se tiver que nadar ou arrastar a versão humana dela, ele apenas faz o que for preciso para o bem de Ponyo. Se é um amor romântico, uma vez que ambos são muito novinhos, não fica esclarecido. Mas não importa, é amor sincero e puro. Justamente por não se aprofundar nessas questões, a sensação é tão mais sincera.
A trama é uma releitura do conto da pequena sereia. Mas Miyazaki não precisa de um grande vilão para que exista um conflito. Basta o diálogo entre humanos e natureza cheio de problemas. E mais uma vez, não existe lado completamente certo. Não é porque poluem os oceanos que o terrestres são malignos. Da mesma forma, a raiva pelo que os mares sofrem fazem com que Fujimoto, o pai de Ponyo, seja intolerante com os homens. O problema não é maldade desse ou daquele alguém, mas o mal que surge pela falta de vontade de se comunicar. Assim, o amor gera união e força o diálogo. A reflexão é simples, emociona e não é tão negativa quanto os conflitos de ódio mais focados em obras ocidentais.
A qualidade técnica das animações do estúdio Ghibli é impressionante. O uso de doze ou oito quadros por segundo para criar a sensação de movimento nos filmes gera cenas de uma beleza única. Não é humano ou natural, mas específico destas produções. No caso de Ponyo, em especial, grande parte dos cenários ganham colorização em lápis de cor. É possível ver os riscos típicos do estilo passarem rapidamente entre os frames. O que dá para Ponyo uma beleza singular. Mas a visualização da técnica também tira o espectador do filme.
Ponyo é um dos casos raros da filmografia de Miyazaki no qual a trama é redonda e existe um conflito central (o diretor inventa as histórias à medida em que anima). Ainda assim, a simplicidade da trama e o foco em ser infantil não permite muitas alegorias e complexidades. É uma pena, porque mesmo roteiros minimalistas podem ser elaborados.
FANTASTIC…