Não é segredo que o seriado Doctor Who foi importante no processo deste escritor para lidar com a depressão. A doença é, talvez, uma constante para o resto da vida. Portanto, há a esperança de que o alienígena autointitulado doutor se torne uma constante em paralelo.
Mas é difícil acompanhar algo da BBC com tanta reverência e envolvimento. 14 episódios por ano garantem 38 semanas de aguardo por acalento. Por isso o primeiro ano do ator Peter Capaldi como o personagem foi tão tenso. Ele flertava diversas vezes contra os valores que fizeram o doutor tão apaixonante.
O final daquela temporada revelou um doutor mais velho, cansado e triste. No limite da síndrome de sobrevivente. Perdeu os iguais e é forçado a lidar com o abandono de amigos e companheiros enquanto apenas segue adiante, imortal e solitário. Cada humano não salvo no final do dia é uma tragédia, mesmo que ele salve milhões no processo.
Ainda era o doutor que eleva o espírito com palavras e ações estimulantes.
Porém, o começo da segunda temporada de Capaldi engatou a ré. De forma assustadora para os fãs apaixonados, o doutor assume que abandonou uma criança para a morte e, na última cena, parece disposto a matá-la. Daí mais uma semana de espera pelo próximo episódio que fecharia aquela história.
E Capaldi não decepcionou. Vejo muitos problemas nas obviedades que o roteirista e chefe da série, Steven Moffat, usa para tentar enganar o espectador. O roteiro dos episódios The Magician’s Apprentice e The Witch’s Familiar, que abriram a temporada atual, são previsíveis e bobos, mas deram para Capaldi o necessário para fazer o doutor brilhar.
Diante da possível morte de um dos maiores vilões do seriado e causador de vários dos sofrimentos que afligem o doutor, o alienígena de dois corações explica porque veio encontrá-lo. Não é ódio pelo passado dos dois, nem vergonha pelo menino abandonado. Davros, o inimigo, estava doente e pediu ajuda. Nada mais, nada menos, que misericórdia e compaixão.
Um homem imortal com 2000 anos de perdas e sofrimento. E ele ainda faz o que é certo e bom para todos, mesmo para quem não merece. De repente Peter Capaldi fez lembrar a grandeza do doutor.
GERÔNIMOOOOOOOOO…