Em 1993, o Brasil enfrentava a hiperinflação, um cenário econômico devastador que se deu após a implantação inútil de vários planos econômicos em sequência que não surtiam efeito. Numa tentativa de elaborar um novo que conseguisse controlar a economia brasileira, o então presidente do Brasil, Itamar Franco (Bemvindo Sequeira), nomeia Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo) como o novo Ministro da Fazenda, que, por sua vez, denomina Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto) como o economista principal, dentro de um grupo formado por mais alguns especialistas.
O filme, dirigido por Rodrigo Bittencourt e roteirizado por Mikael de Albuquerque, foi baseado no livro 3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão de Guilherme Fiuza, que também é autor de outras obras sobre personalidades e momentos históricos brasileiros, como Bussunda – A Vida do Casseta (2010) e Que Horas Ela Vai? – O Diário da Agonia de Dilma (2016).
Considerando o momento político pelo qual passamos atualmente, não é nenhuma surpresa que tenha existido um interesse em transformar essa história em particular em filme. Afinal, trata-se de uma narrativa única, ainda fresca na mente dos brasileiros e, francamente, um história de sucesso. O plano deu certo, trouxe estabilidade econômica ao país, e tranquilizou milhões de pessoas.
Com várias cenas filmadas em Brasília, especialmente na Esplanada dos Ministérios, o filme não falha em ambientar muito bem a década de 1990. Desde o dia-a-dia dos funcionários públicos, dentro e fora dos ministérios, até a movimentação popular que, vira e mexe, acontece na frente dos mais variados palácios e prédios públicos. Para quem mora em Brasília, essas cenas são comuns e rotineiras.
O elenco, por se tratar da remontagem de um evento real, é composto por atores e atrizes que precisaram personificar figuras conhecidas e trazer para a tela não só a aparência e trejeitos de seus personagens da vida real, como também a importância que cada um teve para que o Plano Real fosse criado e aplicado. Como esperado, a atuação de alguns, na tentativa de recriar certas figuras públicas, acabou por entregar performances caricatas e canastronas, como é o caso de Fernando Henrique e do próprio Itamar.
Orciollo Netto, dono do personagem central da trama e detentor do maior tempo de tela, convence com uma atuação mais comedida e estudada do estado emocional e particular em que se encontrava Gustavo Franco, na época dos acontecimentos.
Há alguns problemas com cortes bruscos de cena para cena, e momentos onde diálogos explicativos são levados a cenários desconhecidos sem motivo. A intenção de usar as paisagens da cidade como pano de fundo é louvável. Mas cenas de meros segundos, com diálogos explicativos de apenas três ou quatro linhas entre dois personagens centrais, no alto de escadarias que levam ao topo do prédio apenas para dramatizar o momento decisório para a política nacional, incomodam e parecem forçadas. Diferente dos momentos que ilustram a vida pessoal de Gustavo Franco com a esposa (Paolla Oliveira). Eles acrescentam personalidade à figura do economista, por vezes retratado como exageradamente racional e defensor de suas crenças.
O longa procura recordar e, até mesmo, educar sobre um período importante na história do Brasil, e o fez sem se preocupar com uma linguagem rebuscada ou termos de economês que poderiam confundir ou desinteressar o espectador. Neste quesito, apesar de não ser dos temas mais interessantes do cinema atual, especialmente para audiências acostumadas a grandes produções e elaborados efeitos de tela, o filme fica aqui classificado como bom, observados os padrões de qualidade que aprendemos a esperar de filmes biográficos nacionais.