Este RoboCop começou com um grande erro, ser o remake de uma obra que não precisa ser revisitada desta forma. O clássico de 1987 só envelheceu nos quesitos de efeitos especiais. Não foram todos e diversas das cenas que dataram são donas de um charme visual muito elegante. O importante é que as discussões e os pontos levantados lá atrás ainda são válidos hoje. O que inutiliza refazer a bagaça. Ainda assim, esse foi o único erro da produção.
A história é parecida com o original. Em algum ponto do futuro, uma empresa de tecnologia bélica criou robôs que auxiliam em situações de guerra ao redor do mundo. O único lugar onde a tecnologia não é aceita é nos Estados Unidos, porque o público não aceita ser protegido por coisas sem sentimento. Eles pegam então um policial ferido e criam o primeiro ciborgue policial, feito para ganhar a opinião pública.
Da lista de acertos do remake, a primeira pista de que o filme poderia dar certo foi a contratação do brasileiro José Padilha. Padilha é um diretor que não aceita fazer ficção com facilidade, a menos que realmente veja uma mensagem que acredita ser necessária nas produções. Além disso, a escolha é extremamente semelhante à do original. Um diretor estrangeiro com filmes premiados e violentos na carreira.
Quando saíram as notícias sobre as dificuldades da produção, Padilha foi pessoalmente dar diversas informações explicando como estava tendo liberdade para fazer o filme que queria. Ou seja, chamaram um diretor internacional com background para fazer filmes com críticas políticas e sociais com muita violência e lhe deram liberdade criativa.
Acima de tudo, Padilha é um diretor excelente. Foi justamente o papel que exerceu no filme que estreia nesta sexta. Padilha acrescenta à lista de críticas e discussões do antigo a política belicista estadunidense e mantém questões sobre corporativismo, mídias manipuladoras e a humanidade por trás de máquinas.
Padilha usa uma estrutura de roteiro assustadoramente semelhante à do antigo. Mas a cada passo a história ganha pequenos detalhes diferentes que são muito mais atuais, realistas e críticos. Desde a abertura, uma brincadeira muito engraçada (e crítica) com a logo da MGM, até o desfecho repleto de opções inteligentíssimas de Padilha como diretor.
As críticas sobre a mídia perdem as propagandas de TV para ganhar um apresentador manipulador. Murphy nunca chega a perder a identidade quando vira o ciborgue, mas perde o controle sobre suas emoções. Os cientistas envolvidos em sua criação ganham tons de tragédia pessoal que fogem muito do maniqueísmo padrão. E o que realmente é um avanço em relação ao anterior, as relações entre os vilões não são tão coincidentes.
Tudo com enquadramentos que contam a história com muita inteligência e eficiência. Uma cena em específico corta de um sonho de Murphy para a realidade agressiva em que passa a viver simulando um plano contínuo. É elegante e realça a crueldade da situação para o personagem.
Quando o filme chega nas cenas de ação, causa vibração. O espectador regozija quando vê Murphy superando os controles emocionais e indo atrás de seus assassinos. As cenas de ação que se seguem são muito bem dirigidas e animam muito. É tudo bem violento, mas muito leve se comparado ao original. Porém, a violência exacerbada não faz falta com a ação mais movimentada e bem dirigida, que ganha estilo de guerrilha urbana.
O elenco do filme é um atrativo à parte. Joel Kinnaman segura bem o papel de Murphy equilibrando os momentos impulsivos do personagem com a insensibilidade robótica a qual ele chega em certo ponto. Michael Keaton surpreende com um personagem bastante diferente do que ele fez durante sua carreira. Gary Oldman é o cientista dividido entre as realizações tecnológicas e o mal que pode estar fazendo para Murphy. O ator cria essa tragédia através da culpa com muita sensibilidade e rouba a cena com frequência.
Jackie Earle Haley complementa o elenco como uma ameaça ao personagem bastante iminente e consegue ser assustador em diversos momentos. Junto a ele, Jay Baruchel faz uma ponta pequena, mas consegue acrescentar às suas cenas muito humor como um diretor de marketing inescrupuloso. E Samuel L. Jackson está maravilhoso ao interpretar um apresentador de TV que remete facilmente aos programas extremos e parciais que vemos com frequência aqui no Brasil.
No final, o remake de RoboCop nunca foi necessário. Ainda assim, é um filme excelente que não faz feio diante da comparação ao original. Ouso dizer que talvez seja até melhor. Um filmaço que merece ser visto no cinema para sentir toda a sua força na tela grande.
ALLONS-YYYYYYYYY…
Estou muito curiosa pra assistir 🙂
Estou muito curiosa pra assistir 🙂