Apenas pelo título já é possível ter uma noção de como funciona esta produção que chega de repente nos cinemas brasileiros. O trocadilho que mistura o termo hot-dog com o gênero musical do rock é de um humor tão pobre que cria a hesitação de ir ao cinema assistir a algo da mesma falta de criatividade que o nome carrega.
Resta ver se as aventuras do cachorro Bodi (voz do Luke Wilson), da raça mastim, que deve herdar o trabalho da vida do pai e ser o protetor de uma vila de ovelhas, que são o objeto de desejo de lobos esfomeados. Mas o herói gosta de música e precisa se afastar das funções para poder seguir o sonho de virar um roqueiro na cidade grande com o astro metido e egoísta Angus (voz do Eddie Izzard), um gato que precisa fazer um novo single em três dias ou vai perder tudo o que conquistou.
Trata-se de uma típica animação infantil em computação gráfica com personagens adoráveis fofos, coloridos e de olhos grandes. Com uma penca de ironia e sarcasmo para construir humor e um ritmo acelerado com comédia pastelão que atinge as crianças. Ainda tem uma, duas ou vinte mensagens para passar para os espectadores.
E é justamente onde reside o grande defeito deste filme. O roteiro do diretor Ash Brannon com a ajuda de sete outras pessoas tem tantas mensagens e tramas principais e secundárias que não existe um conflito principal. Com cerca de vinte minutos, o grande problema é Bodi não ser aceito pelo pai e salvar a vila das ovelhas. Então muda para a jornada de alguém do interior com inocência na cidade grande. Depois é sobre aprender música, e sobre encontrar a força interior.
Tentar dizer algo com uma narrativa é valioso, mas na tentativa de ser muitas coisas, Rock Dog não é sobre nada que ele tenta discorrer. Quando o filme chega ao terceiro ato, nenhuma das tramas paralelas é o foco do conflito que de repente aparece na tela. Mas, como foi dito antes, este é apenas o grande defeito da produção. Há muitos mais.
Para construir humor, piadas fracas que não fazem rir tentam construir ironias para os adultos, assim como bobas para as crianças também. Então Angus usa sempre preto e tem um par de óculos escuros para indicar como ele é um artista de um estereótipo metido e acostumado com uma imagem pessoal.
É uma ironia sobre estilo para os pais e as mães, mas é tão óbvia que não tem o impacto necessário. Ao mesmo tempo, o gato leva choques, sai voando e quica em superfícies em um estilo de pastelão que pode até fazer rir, mas contrasta com o sarcasmo da construção do personagem. Então os dois tipos de humor perdem a efetividade.
Na parte técnica, é possível ver como esta produção teve um orçamento apertado. As texturas são imagens simples sem trabalho de superfície. E ter pouco dinheiro não é um defeito em filmes, mas não saber usar isso a favor. Em certa cena, Brannon começa o enquadramento com a câmera aproximada do chão de tijolo. Como a superfície do solo não é nada mais que uma imagem esticada, essa limitação técnica fica exposta demais.
No entanto, o filme acerta na escolha do elenco original. Em especial Eddie Izzard como Angus. O gato chega a ter algumas das características físicas do ator. O jeito meloso e lento de se mover se reflete no personagem e é adequado para a personalidade expressada.
Também há acerto na trilha sonora, que representa o rock com Foo Fighters e Radiohead. Melhor ainda, o filme não tenta usar o gênero para criar cenas de ação movimentadas. Por outro lado, as músicas que os personagens cantam e tocam não parecem digna do estilo.
É difícil não pensar naquelas animações com nomes de desenhos famosos da Disney que eram lançados aos montes em VHS durante a década de 1990. Feitos rapidamente quase sem animação real, não tinham metade da energia e do ritmo dos filmes de mais sucesso. Infelizmente, Rock Dog ainda tentava ser original. Sempre uma pena.