Depois de alguns anos, finalmente terminei de ler a franquia completa do manga Rurouni Kenshin, que no passado foi lançada por aqui com o título de Samurai X tanto em anime quanto na forma de quadrinhos japoneses. Feito isso, hora de ter a decepção de assistir os dois últimos filmes da trilogia que adapta a história para o cinema. Quanto ao primeiro filme, clique aqui.
Depois de descobrir um novo lugar para viver, Kenshin Himura é chamado pelo novo governo do Japão para impedir outro golpe de estado. O golpista é justamente o assassino que tomou o lugar dele quando se aposentou durante a guerra civil de dez anos antes, Makoto Shishio.
O Inferno de Kyoto é a adaptação do segundo ciclo de histórias originais da franquia Rurouni Kenshin, chamado de Kyoto. A trama é a mesma, inclusive as menores paralelas. O que já leva a um problema sério em comparação ao primeiro filme. Se naquele o roteiro costura os vários enredos com elegância, aqui detalhes desnecessários viram histórias menores que tomam tempo e não estão diretamente relacionadas ao final.
A discussão é a mesma. Kenshin é um dos maiores, senão o maior, assassino vivo do país. Mas ele não gosta do que se tornou e vive com a culpa do que fez na guerra. Enquanto vive como andarilho para redimir os pecados passados, encontra hordas de inimigos antigos que matam por prazer. Como impedir um homem destruidor sem a intenção de destruí-lo? Eis a quase tragédia do protagonista, matar ou deixar inocentes morrerem.
Vilões bizarros e ameaçadores. Conflito interessante.
Sem a necessidade de apresentar o contexto ou os personagens, o filme pode desenvolver mais rápido, o que é ótimo. Em pouco mais de meia hora, Kenshin já encontrou Shishio, perdeu a espada, encontrou outros personagens coadjuvantes, salvou uma aldeia e agora precisa encontrar uma nova arma. O ritmo é bom, mas a história fica episódica. O momento do confronto pela nova katana é a melhor parte da produção, mas é apenas um capítulo menor no enredo principal.
Daí surge o Aoshi. Inimigo clássico dos quadrinhos originais, ele tem uma representação muito fiel e interessante, mas não tem importância para a história principal. É apenas uma trama secundária sem relevância. Ainda assim, ocupa mais de hora de tempo de tela. E isso é o que leva à grande decepção desta trilogia.
Aoshi Shinomori. Participação inútil.
Rurouni Kenshin é dividido em três grandes ciclos, Tóquio, Kyoto e Justiça dos Homens. O primeiro é introdutório, o segundo apresenta os inimigos mais estilosos, mas o terceiro é o melhor. A trilogia poderia render um filme para cada história, mas os realizadores escolheram dividir Kyoto em dois filmes e não deram atenção à melhor parte. O que significa, de forma bem simples, que Inferno de Kyoto termina no meio da história, que chega ao final no terceiro filme, O Fim de uma Lenda.
A fotografia continua um primor e a direção ganha com o aumento das extraordinárias cenas de ação e a diminuição do melodrama. A direção de arte passa a acrescentar detalhes absurdos da história original. Shishio é um homem que vive sob ataduras porque quase toda a pele foi queimada. A representação no filme das bandagens é um material mal feito que parece uma borracha desproporcional. Soma-se a isso cabelos esdrúxulos e roupas bizarras dos vilões. O visual ilógico atrapalha a narrativa.
Tivesse evitado ser tão fiel e se esforçado mais na base da história, a trilogia cinematográfica Samurai X seria muito superior. O terceiro filme, infelizmente, ainda se encontra na lista para ser visto. E tem mais de duas horas de duração. Difícil animar.
Oro…