Com a chegada do filme em DVD e blu-ray no Brasil, pareceu uma boa ideia sentar para assistir a adaptação do famoso mangá/anime para os cinemas. Vemos aqui a versão em carne e osso da saga do samurai que busca deixar seu passado para trás.
Andarilho e dona de um dojo de esgrima buscam, por motivos diferentes, impedir um assassino que diz ser um dos grandes matadores da guerra civil que assolou o Japão dez anos antes. Ao mesmo tempo, uma gangue inicia um cartel através do tráfico de ópio.
Os fãs dos materiais originais sabem que não se trata de uma sinopse justa para a história de Kenshin Himura. Mas o filme é apenas o primeiro de uma trilogia que contará toda a saga de 28 encadernados em mangá ou dos 96 episódios do desenho.
Os mangás se dividem em três ciclos principais: Tóquio, Kyoto e Justiça dos Homens. O desenho adaptou as duas primeiras, criando uma terceira que nunca existiu nos quadrinhos.
O filme adapta o ciclo Tóquio, que apresenta os personagens principais, seus conflitos principais e rende mais uma penca de histórias separadas. Dentre elas tem essa gangue do ópio, um assassino chamado Jin-e e a do falso retalhador.
São muitas histórias diferentes que funcionam muito bem em série, mas não necessariamente em filme. É onde entra a melhor parte do filme. O roteiro. De alguma forma, os roteiristas conseguiram juntar todas essas tramas em uma história única. O falso retalhador vira o Jin-e, que também é um dos seguranças dos traficantes.
Ainda tem espaço para apresentar os coadjuvantes do bem: Kaoru, Yahiko, Sanosuke e até a Megumi. O antigo rival de Himura e agora policial Saitou também dá o ar de sua graça. Todos relacionados ao enredo principal. Também sem perder a mensagem dos quadrinhos e do desenho.
Samurai X é sobre um soldado que busca o caminho da retidão após anos de mortes e violência. A história sugere que a guerra transforma homens em assassinos. Daqueles que tem prazer em matar e sentir a adrenalina de uma batalha que pode significar a morte. Kenshin toma a decisão de ser diferente. Após a guerra, vira um andarilho pelo Japão tentando ajudar as pessoas por onde passa.
Para garantir que nunca mais vai matar nem despertar o espírito assassino que continha em si, ele anda com uma katana de lâmina invertida. Seus golpes deixam de ser fatais, mesmo que deixem seus inimigos feridos e talvez até mutilados.
Cada confronto ou adversário são um obstáculo para Kenshin conseguir levar uma vida de paz sem mortes. É a parte mais interessante de todas as versões da franquia. E funciona muito bem no roteiro.
A direção de arte é um primor, reconstruindo o Japão daquelas eras sem deixar de reproduzir os tons dos mangás. Ou seja, Kenshin usa um quimono vermelho, tem uma cicatriz em forma de cruz no rosto, Yahiko usa um quimono com tons amarelos e detalhes pequenos, Sanosuke carrega os dizeres de mau nas costas. Mesmo com tantas características que poderiam deixar o filme colorido demais, o tom ainda é verossímil e sóbrio. Acompanha essa elaboração uma direção de fotografia belíssima, compondo planos lindos de se ver.
O problema é a direção em si. Apesar do diretor ser muito bom com cenas de ação, quando entra na área do drama, ele se perde completamente. Lá pelo meio, o filme entra em um melodrama ridículo com Kenshin relembrando seus tempos de massacre.
Tratando-se de um filme com duas horas e meia, enrolação não é uma boa ideia. Piora com o fato de que precisa ser fiel ao material original. Yahiko e Sanosuke são dois pesos mortos no desenvolvimento. Seria um filme muito mais enxuto e bem ritmado sem a presença dos dois.
Além do que, o filme é super expositivo, precisando explicar cada pequeno detalhe das lembranças e sentimentos. Não é preciso e só deixa o filme mais incômodo.
Mas a pior parte é o vilão. Uma espécie de Beiçola japonês, o cara é um estereótipo ambulante, com o ator fazendo cara de nojo a torto e a direito. Cria um asco com a produção ao seu redor e não com o personagem. Pequenas coisas como essas estragam o filme.
Funciona muito bem como um fan-service. Se você gosta do mangá e do anime, pode assistir sem medo. Vai ver diversos momentos e personagens que adora em live-action. Mas se não tem ideia do que é o original, pode achar tudo bizarro e lento demais.
Os dois próximos filmes da trilogia já estão em pós-produção e devem ser lançados no Japão em 2014. Sabe-se lá quando os veremos por aqui. Tomara que sejam mais rápidos e interessantes.
GALLIFREY STANDS…
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