Selma foi indicado ao Oscar de melhor filme. Sem nenhuma indicação para ator, diretor, roteiro ou outro prêmio que deveria estar relacionado a um potencial melhor filme de 2014, de acordo com a academia. Trata-se de uma grande injustiça tanto pelo valor da produção, que é muito superior a alguns dos grandes favoritos como, quanto pelo fato de que foi indicado mais pela culpa cultural que toma os Estados Unidos que por méritos próprios.
Após acabar com a segregação e ganhar o prêmio Nobel da Paz, Martin Luther King (Oyelowo) viaja para a cidade de Selma para criar pressão política para a criação de leis que forcem os tribunais do sul a aceitar as inscrições dos negros pelo título de eleitor. O presidente do país, Lyndon Johnson (Wilkinson) está focado em vários outros problemas internos, além da guerra do Vietnã e por isso não consegue dar prioridade à causa. Começa uma guerra política e judicial pelos direitos igualitários.
Diálogo com o presidente. Pressão política.
O filme busca aprofundar o peso da culpa que assolou o homem real durante os eventos na cidade do Alabama. O roteirista de primeira viagem Paul Webb faz um grande trabalho ao desenvolver uma estrutura para os conflitos de Luther King. Sempre que precisa explicar motivos e conceitos, cria cenas de exposição. Não precisa colocar os personagens dizendo que o assassinato de quatro crianças foi a motivação para os eventos, basta mostrar os assassinatos. Também não mostra apenas Luther King em sua batalha contra as instituições. Ele não ia apenas contra o governo e as injustiças. Ele tinha medo de morrer, que matassem seus filhos e sentia culpa por cada morte e sofrimento que decorriam de cada manifestação que liderou. Webb equilibra bem esses problemas e passa para um drama pessoal muito fácil de compreender.
A diretora Ava DuVernay tem uma longa carreira na área de produção, assistente, consultora e roteirista, mas Selma é o primeiro filme de destaque dela como diretora. Ela desenvolve as cenas como se fossem relatórios do FBI acerca dos eventos. Isso é adequado porque J. Edgar Hoover era contra Luther King e plantou escutas para saber todos os movimentos dele. Parece um depoimento dos acontecimentos. Com frequência ela deixa cair no melodrama, com exploração de sofrimentos com músicas tristes, mas normalmente ela deixa a tragédia do que acontece dar o tom dramático por contra própria, sem precisar de longos takes de pessoas às lágrimas. Basta ver a crueldade real para sentir. Também tem a sensibilidade de dar destaque para o sofrimento de Luther King ao invés das pessoas com quem ele se importa. O foco do filme é a culpa que ele sente e não o sofrimento dos outros.
Martin com a esposa, Coretta. Apoio na hora de compartilhar o sofrimento.
Se tem uma injustiça entre as indicações, é a ausência de David Oyewolo entre os indicados a melhor ator. Quase irreconhecível, ele engordou para o papel, assumiu o sotaque e até seu rosto lembra bastante o do pastor. Ele constrói a interpretação na premissa de que Luther King carregava nas costas cada morte e ferida entre os seguidores. Na cena mais bela, ele vai conversar com um pai que testemunhou o assassinato do filho por parte da polícia. É possível sentir o pesar e a culpa em cada célula de Oyewolo. Sem a interpretação dele, as dúvidas que impedem diversas ações próximas ao final não seriam compreensíveis.
O elenco de apoio está todo afiado, com direito a um momento brilhante do Tom Wilkinson como o presidente Johnson. Na cena, ele percebe que o racismo é real e retrata o desgosto de poder ser comparável a um outro político cruel com quem interage. Giovanni Ribisi faz uma participação pontual, assim como Martin Sheen, Oprah Winfrey, Dylan Baker, Tim Roth, Cuba Gooding Jr. e Alessandro Nivola. Todos ótimos.
Excelente drama, provavelmente não renderá nenhuma estatueta para os realizadores. É uma pena pois trata-se de um belo filme sobre temas complexos e poderosos. Pesa um pouco a mão na hora de retratar a religião, mas ainda é uma ótima obra.
GERÔNIMOOOOOOOOOOO…
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