A agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt) é convocada para um grupo de operações especiais fora do país pelo misterioso Matt Graver (Josh Brolin) para auxiliar na guerra contra o tráfico. No caminho, ela é apresentada ao enviado estrangeiro, Alejandro (Benicio Del Toro). Correta e incorruptível, ela age sem nunca saber porque foi chamada e qual os verdadeiros motivos para a missão.
Em determinado ponto de Sicario, Alejandro explica para Kate que ela não vai compreender tudo o que acontecer ao redor dela durante uma ação, até o final, onde tudo fará sentido. É Dennis Villeneuve quem fala pelos lábios do personagem. Sicario não é fácil, as coisas parecerão erradas até o final, onde tudo se revelará. Revela-se no diálogo as aptidões de um bom diretor de cinema. Porque Kate não vê apenas o mundo do filme como o espectador o faz. Ela o representa em diversas camadas.
Sicario é um filme cruel, feito para demonstrar para o espectador o quanto suas seguranças são frágeis e hipócritas. Trata-se de uma obra de desesperança, que questiona os valores sobre os quais os sonhos e ideais ocidentais são contruídos. Parece que Kate vai, de alguma forma, virar a heroína que o cinema ensinou a admirar depois de cada reviravolta.
Taylor Sheridan, roteirista de primeira viagem, acerta justamente nisso. O horror presenciado e o nível de perigo e tensão revelados remetem a grandes filmes de suspense e ação. Mas a ideia aqui não é ser divertido enquanto o espectador se sente devidamente vingado e protegido do mal que finge não ver ao redor de si. Não, é para oprimir. E Sheridan o faz através de detalhes na história.
O mistério de Alejandro. Del Toro é o dono do filme.
Kate é brutal, visceral e autossuficiente. Quando entra nas novas esferas representadas no filme, se percebe cada vez mais incapaz. Tanta habilidade não a impede de passar mal depois de descobrir o horror que o tráfico de drogas pode realizar. Ela é humana e falha, o que é a razão pela qual é impossível para ela confrontar de frente os crimes que vai encontrar. Ela não pode, com toda a retidão que possui, fazer nada.
Esse é o conceito mais importante da produção. Sicario é o filme que faz a audiência se sentir mal, por mais que o adore. Villeneuve é um mestre do estilo. Em Os Suspeitos, ele abordou o lado maligno do homem comum. Aquele que precisa ser truculento porque é o papel dele na sociedade. Pode-se ver muito disso aqui. Mas o foco é a desconstrução de uma pessoa de bem diante de tudo o que há de errado no mundo.
Ele não deixa de mostrar o rosto sofrido dela com closes próximos quando Kate está mais machucada. Ela sangra, chora, dorme mal e sofre. Tudo isso se reflete no estado dela. É parte do jogo de Villeneuve. As pessoas de comportamento questionável são calmas, se divertem com piadinhas entre si. Até mesmo um chinelo de dedo revela como um dos personagens está em uma situação confortável, em controle. A direção de arte é representativa.
O sofrimento de Kate enche a tela.
O mesmo se dá com a fotografia do mestre Roger Deakins. Mesmo quando ele enche a cena de luz, os enquadramentos são belos. Mesmo quando a imagem retratada é vista através de um filtro de verde de visão noturna, o movimento da câmera e a forma como ela para no ângulo certo revelam um cuidado e talento brilhantes. Ele conta a história quase imperceptível, com grande capacidade técnica. A “mentira do cinema” é totalmente esquecida.
Emily Blunt parece essa mulher quebrada, mesmo que se erga e demonstre força constantemente. O Josh Brolin brinca com as aparências bem. O estilo texano e desleixado se adequa bem como representação do que acontece quando um homem abraça o conceito do herói americano que busca resultados e sacrifica valores no caminho. O show é do Benicio Del Toro. Entre as olhadas rápidas nas quais ele parece avaliar cada gesto e ação ao redor, esconde-se um segredo. Um ódio e empatia que o tornam muito humano.
Entra na categoria de produções que são ótimas, mas que o espectador nunca mais vai querer ver de novo. Ele sabe que a discussão e a reflexão são importantes, mas não aguentaria tomar aquele golpe no estômago de novo.
FANTASTIC…
Filme impecável! !
Sicario é um dos melhores filmes que eu vi até agora. Sinceramente os filmes desse gênero não são os meus preferidos, mas devo reconhecer que este filme superou minhas expectativas. Na minha opinião, este foi um dos melhores filmes de Denis Villeneuve além de Blade Runner 2049 que eu vi no ano passado. Mais que filme de ação, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Desfrutei muito deste filme pelo bom enredo e narrativa que tem. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. É uma historia que vale a pena.