A intenção de fazer um filme live-action com o mascote azul da Sega já remete ao pensamento correto: pra quê? O Sonic tem uma uma presença complicada no imaginário popular. Para a comunidade de videogames, ele habita inúmeras discussões sobre falta de qualidade. Em outras, o problemão é ainda maior, com referências das mais bizarras com furries. Mas ele ainda é um personagem que apela para o imaginário infantil, e pode render um sucesso com as crianças.
Aqui, Sonic (Ben Schwartz) é um alienígena com o poder de super velocidade, o que o força a fugir entre planetas de qualquer ser que queira roubar e estudá-lo. Depois de anos escondido na Terra, ele chama a atenção do exército e passa a ser perseguido pelo doutor Robotnik (Jim Carrey), o homem mais inteligente do planeta. Junto com o xerife Tom Wachowski (James Marsden), ele cruza os Estados Unidos para encontrar uma forma de escapar para outro mundo mais seguro.
É uma besteira sem sentido, mas a ideia de fazer um filme do Sonic é ilógica desde o começo. E o mais importante, o diretor Jeff Fowler e os roteiristas Patrick Casey e Josh Miller sabem que é o suficiente para que as crianças embarquem na jornada com os personagens. Mas segurar a atenção de pequenos é difícil, então eles se focam equilibrar comédia com pequenas homenagens e referências aos jogos originais.
Para isso, eles abraçam abertamente dois elementos voltados para o humor. Primeiro, Sonic é acelerado e fala constantemente, com muitas piadinhas com perspectiva infantil, porque ele é considerado na história como uma criança. Segundo e mais importante, deixam que o Jim Carrey dê uma interpretação típica do comediante como há anos não se via. O ator tem direito até a cenas inteiras para que o estilo pessoal metralhe humor físico e com caretas na tela.
Como ele é um dos melhores, se não o melhor, a trabalhar com esse estilo, ele consegue criar o tom para que tanto adultos quanto crianças entrem no clima de comédia para o resto do filme. E é o suficiente para que o texto genérico acerte. O momento em que ele busca solidão no caminhão para trabalhar com música é hilário. Carrey faz bocas e danças que são engraçadas pelo absurdo. Outra coisa que ajuda nisso é o trabalho de Marsden como o coadjuvante humano do Sonic.
Isso porque o ator se dá ao trabalho de entregar todas as falas com o máximo de honestidade possível, mesmo as mais tolas e sem sentido. Afinal de contas, os mesmos responsáveis pela trama ilógica são os que fizeram os diálogos. Logo na primeira cena, ele faz uma piada para si mesmo e comenta para ninguém. Mas o faz virado para a câmera, como se o personagem soubesse, assim como Marsden, que é um filme bobo, mas ainda decide se divertir com isso.
Ainda é um filme infantil cuja trama não é embasada em lógica, mas parece que ninguém envolvido com a produção se importa com isso. A sensação é que foi muito divertido fazer esta adaptação do Sonic para as telonas, e essa diversão transparece durante a projeção. De tão despretensioso, consegue ser agradável. Mesmo que esquecível.