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Steve Jobs (2015)

Steve Jobs

Steve Jobs foi um grande mistério. Pessoa de personalidade difícil, com relatos diversos sobre as relações complexas. É até difícil dizer o que ele era além de CEO da Apple. Até onde se sabe, o verdadeiro talento dele era ver as qualidades de um produto e ressalta-las mesmo quando era além do viabilidade financeira e produtiva. Depois do péssimo e acelerado Jobs, de 2013, chegou a vez de uma equipe criativa de peso fazer uma versão sobre o dito gênio por trás de grande parte da tecnologia que existe hoje.

A cinebiografia acompanha três lançamentos importantes de produtos na vida de Jobs (Michael Fassbender), o Macintosh, o Next e o iMac. Para cada um, ele precisa lidar com as questões da apresentação que virá em breve e com as pessoas da vida dele. Mais especificamente a amiga de marketing Joanna Hoffman (Kate Winslet); O colega com o qual criou as fundações da Apple, Steve Wozniak (Seth Rogen); O executivo John Sculley (Jeff Daniels); O programador Andy Hertzfeld (Michael Stuhlbarg); E a filha Lisa Brennan (Perla Haney-Jardine, Ripley Sobo e Makenzie Moss).

Enquanto o filme de 2013 foi realizado às pressas para tentar roubar a atenção deste, que é inspirado na biografia famosa escrita por Walter Isaacson, aqui existe uma obra de realizadores com estilos próprios que dominam a narrativa. O interesse do filme não é exatamente desvendar a pessoa Steve Jobs, mas retratar diversos dos relacionamentos mais íntimos dele enquanto ele tenta lançar a obra da vida dele. É uma luta para alcançar a realização pessoal. Seja pelo trabalho ou pelas relações.

estresse na apresentaçãoRelações que se confundem com a satisfação profissional.

Steve Jobs é uma obra de autores. Principalmente dos dois com mais influência sobre a parte narrativa entre a equipe de produção: o diretor e o roteirista. O primeiro é o Danny Boyle e o segundo é o Aaron Sorkin. Os dois possuem estéticas e estilos pessoais fortes. Sorkin sabe contar histórias através de diálogos rápidos, nos quais os personagens conversam sobre múltiplos assuntos ao mesmo tempo. E Boyle é dono de um ritmo acelerado, com muito domínio sobre montagem para sobrepor ideias a planos em velocidade de videoclipe. Ao considerar a obra tão divergente dos dois, é surpreendente como funcionam bem juntos.

Cada apresentação de produto vira um ato do filme, muito ao estilo da comédia sobre bastidores do teatro Impróprio para Menores. Não é especificamente sobre o que acontece no palco do show, mas sobre o que ocorre por trás dos panos. Para cada apresentação, Joanna aparece quase como uma anunciadora dos outros personagens enquanto Steve tenta se concentrar na grandiosidade do produto que quer introduzir ao mundo. Cada um possui um tempo de diálogo e corta para a próxima. Entre cada uma os tempos de transição são explicados pelas conversas e as tramas se desenvolvem.

Com um texto tão bom e elaborado, é normal que um diretor não consiga se impor esteticamente. Mas o estilo do Danny Boyle de sobrepor imagens correlacionadas diz o que o texto esconde. Na abertura, sobrepõe os preparativos da primeira apresentação com imagens de cadeiras de teatro enquanto sons de uma orquestra ressoam. Pode ser sobre um produto de tecnologia, mas para Steve é sobre arte, que o texto de Sorkin completa mais tarde quando Jobs se compara a um maestro. Mais a frente, quando ele não consegue se concentrar em um texto, Boyle coloca frames rápidos do que tira a atenção de Jobs. Explica o que acontece de forma a exigir atenção do espectador para o que acontece na tela.

Seth Rogen como WozSeth Rogen com Wozniak. Vulnerabilidade e falta de malícia.

Cada apresentação é contada com cores diferentes. A primeira, na qual ele acha que está lançando o maior sucesso dele, é um confortável verde. A segunda, com um produto vazio e cercado de conflitos com todos, a cor dominante é vermelha. A terceira, no sucesso do iMac e a conclusão dos confrontos, o azul. E o azul é importante. Sempre que ele está em um momento tranquilo ou com um objetivo que quer alcançar, o azul está presente, o vermelho no oposto. Não à toa, na cena em que ele finalmente estabelece uma relação honesta e alcança os objetivos finais, o azul toma conta da tela. A fotografia do filme muda entre os períodos para acompanhar estilos de época. Na primeira apresentação, existe muito granulado, como em películas antigas. Em tempos mais recentes, é mais limpa, como as imagens passaram a ser na década de 1990.

Michael Fassbender constrói Jobs através de trejeitos sutis, sem precisar forçar um movimento. A voz dele é levemente mais fraca, mas ainda é a voz dele, com os sentimentos que ele busca exprimir. Ao término, é fácil esquecer que ele é o ator. A Kate Winslet fez um sutil sotaque polonês para Joanna e equilibra a impaciência de alguém que lidava quase 24 horas com Jobs com a admiração por ele. O Seth Rogen dá vulnerabilidade para Wozniak, como um homem inteligente e capaz, mas que não tem a malícia para lidar com os jogos de poder no gerenciamento de uma empresa. Os atores Jeff Daniels e Michael Stuhlbarg estão bem, mas não se destacam.

Steve Jobs tem a trinca de ouro da realização cinematográfica. Um grande texto muito bem dirigido com ótimas interpretações. Isso tudo embasado com uma parte técnica eficiente. O resultado é uma obra ótima, que trata o homem com respeito, mesmo que não deixe de mostrar os defeitos dele. Uma boa história bem fechada e uma verdadeiramente boa cinebiografia.

 

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