Antes da sessão deste Te Peguei, não foi incomum ouvir repetidas vezes como o filme parecia bobo. E talvez, essa seja parte da graça da ideia por trás da produção. Imagens como a de cima, com homens que correm como parte de uma brincadeira de pique-pega remetem a uma noção de bobagem infantil. É quase como se os realizadores quisessem falar sobre a própria falta de profundidade.
E, de fato, quando os amigos Hogan (Ed Helms), Callahan (Jon Hamm), Chilli (Jake Johnson) e Fumaça (Hannibal Buress) viajam para a cidade natal e tiram o mês de maio para brincar de pique-pega com Jerry (Jeremy Renner), que nunca foi pego na brincadeira que já dura 30 anos, é difícil encontrar profundidade. O caçado vai casar e prometeu que vai sair do joguete se não for pego, o que cria desespero para os antigos colegas.
Mas há algo de mais profundo e complexo na ideia do quinteto de garantir que manteriam contato e que não deixariam o espírito infantil morrer. À princípio, parece uma bobagem infantil, mas é uma forma de preencher uma parte da vida. Inclusive, como eles sequer são capazes de compreender inicialmente. O ridículo de cinco adultos que agem como crianças em um prédio empresarial ou pelos andares de um hospital gera humor, mas também faz parte da jovialidade esbanjada além da idade física.
E os roteiristas Rob McKittrick e Mark Steilen, inspirados na reportagem “It Takes Caution, Planning to Avoid Being ‘It.’” (É Preciso Cuidado, Planejamento para Evitar Ser “Pego”) de Russell Adams para o Wall Street Journal, aproveitam bem os limites entre o divertido, o bobo e os perigos de tocar em situações sérias da vida adulta. Em um dos momentos mais singelos do filme, os amigos consolam Hogan no funeral do pai. É quando alguém o “pega” e o grupo passa a correr um atrás do outro no cemitério.
É fácil imaginar isso como desrespeitoso, cruel ou insensível, mas Hogan sabe que a vida segue em frente e que a morte não o impede de ser capaz de se divertir. Da mesma forma, esses limites são testados com temas cada vez mais pesados, como consumo de drogas, triângulos amorosos, alcoolismo e aborto. Ao nível de os personagens começarem a se perguntar se a brincadeira realmente os uniu, ou os fez maldosos.
Ao mesmo tempo, esse é o ponto fraco do roteiro. Porque o personagem que carrega esse fardo com maior profundidade é Jerry, justamente o que menos aparece por ser o fugitivo do grupo. Apenas nos últimos cinco minutos o texto apresenta o que a brincadeira custou a ele. Ainda mais porque a dupla de roteiristas parece muito focada em dar prioridade a tramas menores que não fazem o enredo principal avançar e nem são interessantes, como um triângulo amoroso jogado no meio do filme.
Com uma trama tão boba, o diretor Jeff Tomsic não precisaria elaborar na direção, mas faz escolhas espertas ao aproveitar a proposta absurda e a capacidade de Jerry de escapar para fazer piadas com filmes de terror, de policiais e até de mistério. Numa das melhores cenas, Hogan persegue Chilli enquanto este usa maconha. E Tomsic coloca câmeras que distorcem a profundidade para representar a paranoia do efeito da droga, como muitos filmes de ação fazem.
Em outro momento inspirado, três dos personagens se veem perdidos em uma floresta escura com pouca luminosidade e muita neblina. Enquanto Jerry parece se multiplicar no ambiente. Ele é quase uma criatura sobrenatural na mística capacidade de escapar dos amigos.
Diga-se de passagem, todos os atores sabem que o filme é uma brincadeira e abraçam a piada. Desde a habilidade de fazer papel de bobos com fantasias ridículas de idosa em um shopping até uma hilária cena durante os créditos finais, em que zombam juntos de uma música melancólica sobre amizade. Destaque para Renner e Hamm, atores comuns de filmes mais “sérios” que abraçam a bobagem com muita honestidade, o que os faz ser ainda mais engraçados.
Até mesmo Buress, que é um ator extremamente limitado, apesar de bom comediante, consegue uma boa interpretação por ser bem utilizado em cena por Tomsic. Como Fumaça é um personagem que constantemente questiona os absurdos que eles vivem, o estilo quase avoado do intérprete combina com as observações pontuais.
A decepção fica com o elenco feminino, que é desperdiçado em papéis pequenos. Grandes atrizes como Isla Fisher, Leslie Bibb e Rashida Jones em pontas tão pequenas é um pecado. Elas ainda acrescentam muito ao pouco que recebem do material original. O filme, diga-se de passagem, não passa nem no teste de Bechdel, nem no teste de Mako Mori.
Assistir e se divertir com Te Peguei! pode parecer bobo, mas como a própria mensagem do filme deixa claro, não tem nada de errado nisso. Mesmo que no caminho aquele que se entretém passe por crianção. É uma comédia adulta com um tema infantil, mas como as crianças, sabe como aproveitar bons momentos de alegria.