Quando se fala de filmes trash, daqueles que fazem você rir da “tosquice”, existe um grande debate sobre como se faz algo do tipo. Quando se descobriu o valor de produções de baixa qualidade, veio a necessidade de tentar simular a comicidade involuntária propositalmente. O resultado são comédias como Sharknado, que até funcionam, mas nada supera quando o humor é feito naturalmente por quem acha que fez um filme sério.
É difícil acreditar que o Dean Devlin, diretor, roteirista e produtor do filme não tenha noção da bobagem da história dos irmãos Lawson. O mais velho, Jake (Gerard Butler) inventou o dutchboy, um sistema de satélites que permite aos humanos controlar o clima global, mas é muito rebelde e teve que ser demitido pelo caçula Max (Jim Sturgess), consultor sobre o projeto para o governo dos Estados Unidos.
Um belo dia, fenômenos ocorrem através do planeta. Uma vila congela em um deserto, enquanto o calor em Hong-Kong faz com que a tubulação de gás da cidade exploda. Algo está errado no dutchboy, e os dois irmãos têm que resolver o problema. Porém, tudo indica que a situação é orquestrada por alguém.
Se parece bobo, é porque é. Devlin assume a direção depois das parcerias com Roland Emmerich, quando fez coisas parecidas, como Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012. E fica claro que nenhum dos dois sabe dosar o melodrama das histórias pessoais construídas com a megalomania de efeitos especiais usados para criar fenômenos climáticos, explosões e destruição em massa.
Logo quando Jake começa as investigações na base e Max tenta passar orientações para ele, os dois têm um diálogo absurdo sobre responsabilidade e as mortes dos pais. Isso após uma falha de equipamento quase matar um deles e o outro ser avisado por um amigo sobre uma possível conspiração governamental.
Isso no meio de cenas com cidades que explodem enquanto a câmera acompanha uma pessoa aleatória. Em Hong-Kong o sobrevivente é um cientista importante para a trama, mas há também o garoto em Dubai que não consegue reencontrar o próprio cachorro entre tornados (claramente uma referência ao Totó, de O Mágico de Oz) e a garota brasileira que foge de um avião em meio a uma tempestade de gelo no Rio de Janeiro.
Em meio a esse desequilíbrio de tom e ritmo, há também o posicionamento político de Devlin, que já era mostrado em outros filmes dele com Emmerich. O contexto científico envolve mudanças globais, como cooperação entre países. Então a Nasa agora é mundial, assim como todas as tecnologias são sustentáveis, com carros elétricos e zero de queimas de combustíveis.
É uma versão futurista liberal. O que é visível também no fato de o presidente ser um descendente de latinos (Andy Garcia pagando o aluguel), e na conspiração, que busca criticar o autoritarismo americano. Tudo muito interessante, mas tão grosseiro que é impossível não rir de coisas como o carro elétrico que foge da explosão de uma cidade.
A grosseria é tanta que o filme se torna apenas brega. Desde o começo, com uma narração de uma personagem usada para dar seriedade e inocência com a voz de uma menina, o riso corre solto. Principalmente porque é notável que Devlin não sabe que o tom meloso forçado se torna cômico.
Nem mesmo bons atores como o Ed Harris (de longe a melhor coisa do filme), sustentam esse desenvolvimento capenga. Sturgess e Butler parecem disputar para ver qual dos dois é mais canastrão (Butlet vence de lavada), o que é ótimo para o humor involuntário. E a Abbie Cornish consegue até dar seriedade para mocinha que sabe se cuidar em meio a toda essa baboseira.
O resultado é uma excelente sessão, com risos soltos e bons espetáculos de efeitos especiais. Diga-se de passagem, Devlin mantém a capacidade do amigo Emmerich de construir caos realista em escala gigantesca. A brincadeira talvez fosse mais divertida se o diretor e roteirista soubesse que é uma piada. Por outro lado, se ele soubesse, não seria tão engraçada.