Este filme é um caso curioso a ser explorado. O diretor Brad Peyton nunca fez nada de relevante. O elenco não é o típico de filmes catástrofes do estilo. Ainda assim, é tratado atualmente como um dos maiores lançamentos do ano. O que esperar de um diretor que fez, basicamente, duas continuação de filmes de sucesso relativo e questionável?
O sismólogo Lawrence (Giamatti) descobre um método de prever terremotos dois minutos antes da falha de Santo André começar a se separar. Em Los Angeles, o bombeiro Ray (Johnson) salva a ex-esposa Emma (Gugino) e descobre que a filha Blake (Daddario) está em São Francisco, presa debaixo de uma viga. Os dois partem para a cidade o mais rápido que podem para salvar a garota enquanto parte dos Estados Unidos vira uma ilha.
O desastre, que especialistas preveem que pode acontecer a qualquer momento na vida real, serve de base para que essa família seja forçada a lidar com diversas questões mal resolvidas. Ao mesmo tempo, os tremores servirão para criar inúmeras cenas de suspense e ação de escopo gigante. Efeitos digitais e destruição de prédios e cidades é o que não falta.
O roteiro de um filme do estilo é o que menos importa. Principalmente quando é o Brad Peyton na direção. O drama dos personagens é contado por diálogos expositivos e fora de lugar. Em certa parte, Emma reclama com Ray porque ele nunca falou da segunda filha que morreu em um acidente. Dez minutos de cenas de ação depois, ele explica para ela que se sente culpado e por isso nunca teve coragem de se abrir. Os dois choram e o relacionamento é praticamente retomado. A ação no meio não teve influência nem importância, eles apenas falam naquela hora coisas que tiveram anos para conversar antes. Para piorar, eles o fazem em um avião parado, ao invés de decolar para ir ajudar a filha a alguns quilômetros.
Ray e Emma. Conversas fora de hora.
Durante a apresentação do primeiro ato, Lawrence explica o que são terremotos, a escala Richter (medida internacional para terremotos), e a falha de Santo André (nome brasileiro para o acidente geológico que intitula o filme) para uma turma de faculdade da Caltech, o instituto de tecnologia da Califórnia. Como se a falha não fosse ensinada para crianças dos Estados Unidos. E mesmo se não fosse, alunos de sismologia da Caltech provavelmente sabem o que são terremotos e a escala Richter.
Mas roteiro é o que menos importa neste filme, é apenas a desculpa para a ação desproporcional. A computação gráfica impressiona. Principalmente com o 3D estereoscópico. Os prédios despedaçados, as cidades em ruínas, as pessoas e os veículos no meio são verossímeis. O problema dos efeitos digitais é que, depois de Mad Max, o que não é feito no set parece falso, não importa a qualidade da tecnologia.
Peyton sabe criar a barulheira e a bagunça necessárias. Inclusive, sabe colocar suspense nelas. Na cena de abertura, uma garota dirige em uma rodovia quando um caminhão aparece no sentido contrário, ela olha para baixo à procura de objetos dentro do carro. A câmera não mostra mais o veículo diante dela, até que ele passa ao lado, em outra faixa. Cria expectativa por um acidente e depois o esconde até que ele simplesmente é revelado ou não. Em um dos melhores momentos a câmera acompanha Emma dentro de um prédio enquanto o telhado desaba em um longo plano sequência.
Ainda assim, Peyton teima em fazer com que todo momento de perigo chegue no limite da morte dos personagens para que eles sejam salvos no último instante por centímetros. Depois de repetir o estilo umas vinte vezes, não tem mais efeito. Principalmente porque o roteiro de Carlton Cuse (de diversas séries de TV) telegrafa o clímax quando Ray descreve a morte da outra filha. Fica óbvio quem fica vivo até o final para que o draminha tenha o fim pretendido.
Alexandra Daddario encara o nada. Má direção de atores.
Dwayne Johnson, mais conhecido como o ex-lutador The Rock, é simpático e se esforça, mas não consegue dar a Ray o nível de tragédia que o personagem requer. A Carla Gugino o faz muito bem e tem a cena mais bonita (apesar de óbvia e superficial) do filme. Alexandra Daddario ficou conhecida recentemente como a moça do espetacular nu frontal de True Detective, mas é boa atriz. Os três, infelizmente, sofrem quando precisam atuar com coisas que não estão no set com eles. Apenas olham para o nada em momentos nos quais deveriam estar desesperados. O único que nunca perde o ritmo da interpretação é o Paul Giamatti, que sempre está bem em qualquer papel.
Terremoto – A Falha de San Andreas é exatamente o que era previsto. Um filme de roteiro pífio e pretensioso que se vale pelos excelentes efeitos especiais e grandes e divertidos momentos de destruição em larga escala. Peyton precisa de mais experiência para algo deste escopo, mas é bom o bastante para fazer a barulheira que o filme precisa.
FANTASTIC…