Eis que a lenda Ricardo Darín volta a invadir nossos cinemas com mais um suspense policial. Desta vez ele é um promotor aposentado que se envolve em uma investigação de homicídio. E como em todos os seus papéis, ele é o personagem. Mas como em todos os seus filmes, eu fico um pouco sem graça de dizer que não acho uma grande maravilha.
Professor de pós-graduação de direito percebe que um assassinato diante da sua faculdade pode ter sido realizado por um de seus alunos. Mais ainda, percebe que a morte foi um ato para desafiá-lo pessoalmente a prender o novo estudante.
O filme foi vendido como um policial das antigas. O que de certa forma é verdade. Mas com ressalvas. Depois de ter visto essa montoeira de filmes do Hitchcock no festival do CCBB, Tese sobre um Homicídio foi um contraste interessante.
Assim como na maioria dos filmes do mestre clássico, Tese sobre um Homicídio é um filme lento. Lento pra caramba. Mas diferente daqueles, o filme argentino não trabalha o suspense tão bem.
Os filmes do ator sempre são recebidos com expectativa por aqui. É assim desde O Filho da Noiva e Nove Rainhas. Por isso mesmo sempre tenho problemas para admitir quando não acho os filmes tão bons assim. E foi a mesma coisa com este novo.
Tese sobre um Homicídio é muito bem dirigido. Um compêndio de enquadramentos bem realizados. O diretor coloca os personagens e seus objetos de interesse através de lentes e reflexos, usando um jogo de câmeras que os faz aparecer constantemente sob um teto. Parece que não há céu e eles estão sempre em um julgamento.
Darín é a imagem da obsessão. Seu personagem leva o desafio do assassino para o lado pessoal, mas todas as suas pistas e investigações são circunstanciais. O que deixa brechas para que talvez o aluno não seja o matador. Nesse sentido é muito interessante.
O problema são os atos do personagem. Ele comete tantos erros que incomoda. Começa fazendo com que a pista mais concreta perca o valor, vai se declarando de forma óbvia para o aluno. A investigação prende a atenção, mas as tolices do personagem fazem perder a empatia por ele.
Como todo filme argentino, ele possui um final corajoso. O que pega em finais assim é que eles já não são mais novidade. Principalmente em um filme que só vai deixando duas possibilidades de fechamento. Quando ele acontece não surpreende nem incomoda.
A direção de arte é um primor. Impressionante como a vida do acadêmico de direito é bem construída com todo o material da área colocado ao seu redor.
Não vou nem me dar ao trabalho de comentar a atuação de Darín. O ator que faz o aluno/possível assassino é um tanto apático. Seria preciso ser mais simpático para interpretar esse tipo de psicopata. Quem chama a atenção é a irmã da vítima. Uma linda atriz que faz um ótimo papel de mulher em luto que é ao mesmo tempo inocente, vulnerável e forte.
Um filme que seria excelente se não fosse tão apático quanto seu vilão, que nunca chega realmente a causar medo no espectador pelos protagonistas. E estes nunca chegam a ser realmente interessantes. Vale pelo mesmo motivo de todos os filmes de Darín. Ver o ator veterano trabalhando.
GERÔNIMOOOOOOO…