São cinquenta anos de série, 11 Doutores (prestes a se tornarem 13), muitas histórias e muito amor. Literalmente, Doctor Who foi parte importante para que eu aprendesse a lidar com a depressão. Tive a sorte de ver a série em um momento em que dois grandes realizadores controlaram o show. E tudo foi crescendo para este momento, ou como o próprio Doutor diz, o dia do qual ele esteve correndo por muito tempo.
Reencontramos o Doutor enquanto busca a Clara para mais uma de suas aventuras. Antes mesmo que possam começar, o governo britânico o chama para resolver um problema. De repente ele reencontra duas encarnações anteriores. Cada uma com um problema diferente.
Dizer mais é soltar spoiler. Mas o que pode-se dizer é que nada é o que se esperava. É um feito tanto do Steven Moffat quanto da BBC. Todo o material de divulgação relacionado ao evento focava na união do 10 com o 11 e no mistério relacionado ao War Doctor. Em entrevistas, os atores disseram que seria uma grande celebração de tudo o que foi a série e um passo para o desenvolvimento do personagem.
E é realmente isso. Mas não há preparação suficiente para o que acontece. Moffat alterou o significado de toda a retomada da série sem deturpar ou alterar o que aconteceu até então. O Doutor esteve fugindo por 400 anos do dia em que refutou o significado de seu nome. A palavra que aceitou como promessa de ser um homem bom, cujo som é o som da própria esperança.
O fim da Guerra do Tempo foi um evento terrivelmente traumatizante e transformou o homem para sempre. Eis o brilhantismo por trás do especial. Moffat apresenta o War Doctor antes de matar sua espécie. Ele se encontra com duas encarnações que ainda vivem com o trauma de suas ações futuras.
Daí também surge a importância da escolha de John Hurt como o Doutor Guerreiro. Nota-se que é um homem triste com a vida que precisa viver, mas que ainda é o Doutor. Ele zomba de suas versões mais velhas, é tão brilhante quanto elas e precisa aceitar o peso do que vai se tornar. O importante é que ele é o mesmo personagem.
A interação dele com o 10 e o 11 é ótima. Também porque Tennant e Smith são excelentes atores. Estamos falando de dois homens que, apesar de serem muito mais jovens, precisam interpretar personagens mais velhos que a versão do John Hurt. Funciona muito bem. Os dois parecem mesmo pessoas que passaram por mais experiências de vida e traumas, enquanto Hurt parece significativamente mais esperançoso e idealista. Como a Clara descreve no episódio, ele possui olhos mais jovens se comparado aos outros dois.
No final, diversos momentos empolgantes e emotivos surgem para os fãs. Tentar falar de qualquer um é, mais uma vez, spoiler. Só pode-se dizer que a série vai ser diferente do que tem sido nos últimos anos e o Doutor realmente evoluiu em sua jornada pessoal. Acho que agora podemos assumir que o Eccleston interpretou o 10, o Tennant o 11 e Smith o 12. Portanto, aceitemos que Peter Capaldi vai entrar como o 13, e que vai ser ótimo. Mesmo que ele não seja tão bom, a série vai ser diferente para o ator.
Resta espaço para uma última reflexão do episódio. Clara comprova algo que já havia sido aprendido com a Rose, a Donna e a Amy antes. O Doutor precisa de uma companheira. Sem um acompanhante, ele se torna amargurado e perigoso. Uma pessoa ao seu lado o faz cumprir sua eterna promessa de ser o Doutor.
Se ainda não assistiu, prepare-se para se emocionar e dar uns bons berros de alegria.
GALLIFREY STANDS…