Por Milton Guimarães.
Os anos 1970 foram palco para um dos escândalos mais famosos da história dos Estados Unidos: a invasão do edifício Watergate que, na época, era sede do Comitê Nacional Democrata. Cinco homens foram encontrados tentando fotografar documentos, com aparelhos de escuta e rádios. O que no início parecia ser uma tentativa de roubo, mostrou-se um esquema gigantesco de espionagem política envolvendo o FBI, a CIA e, até mesmo o presidente Richard Nixon. O filme dirigido por Alan J. Pakula, Todos os Homens do Presidente, narra a história de Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman), os dois jornalistas responsáveis por desmascarar o esquema, que levou à renúncia de Nixon no ano de 1974.
O filme é especialmente recomendado para todos que, de alguma forma, têm envolvimento com a área de comunicação social. O trabalho exercido pelo roteirista William Goldman em adaptar o livro de mesmo nome, escrito pelos próprios Woodward e Bernstein, é digno de elogios, pois os diálogos são ricos em detalhes, não economizam na quantidade de informações de uma cena para outra. Cabe ao espectador juntar as peças com os dois repórteres, quase como se fosse um cúmplice da investigação. Não é à toa que o filme rendeu um Oscar de melhor roteiro adaptado. Além disso, é uma grande aula de jornalismo, mostra todos os processos da construção de uma boa reportagem. A seleção das pautas, o trabalho de apuração, as entrevistas com as fontes e toda a ética envolvida na profissão surgem na tela.
A direção de Pakula também merece ser destacada. Ao abusar do uso de enquadramentos que alimentam a ideia de confronto entre a imprensa e o estado, o diretor cria um clima de tensão, uma guerra disputada nos bastidores por meio de palavras e declarações. A cena final, em que o plano mostra o discurso de Nixon na tela da TV enquanto os dois jornalistas escrevem a reportagem que levaria à renúncia do presidente, exemplifica bastante isso. Os barulhos das máquinas de escrever sobrepõem o discurso do presidente e os aplausos direcionados a ele. O poder da imprensa sobre os rumos da história é mostrado. Os ângulos panorâmicos do filme indicam a influência do Estado sobre os jornalistas que, mesmo com as dificuldades e limitações encontradas no caminho, não desistiram de trazer a verdade para os cidadãos.
Vale destacar como era o trabalho de apuração na década de 1970. Sem a internet, Woodward e Bernstein abusavam das listas telefônicas e telefones, registros antigos, documentos e, é claro, das fontes. Perceber a evolução dos métodos talvez seja a parte mais interessante do longa. Será que as reportagens feitas quando buscar informações era mais difícil superam as recentes, quando se consegue fazer praticamente tudo com a ajuda de um smartphone?
Além da importância que tem para o cinema norte-americano, Todos os Homens do Presidente pode ser considerado atual ainda hoje, 40 anos depois do lançamento. A forma como representa os jornalistas foge dos corriqueiros estereótipos heroicos encontrados normalmente. Trata-se de um filme baseado em momentos históricos fortes, que aborda temas polêmicos com seriedade e fidelidade ao material original.