Toque de Mestre é um filme realizado com financiamento espanhol, equipe criativa espanhola e trama ambientada nos Estados Unidos. Nos créditos iniciais, vemos os letterings anunciando em inglês diversos nomes de empresas espanholas, incluindo uma faculdade. Ou seja, é um filme espanhol, falado em inglês com um elenco completamente americano. Essa confusão se reflete no produto final.
A trama acompanha Tom Selznick (Elijah Wood), o melhor pianista do mundo. Cinco anos antes, ele teve um ataque durante uma apresentação com uma música extremamente difícil e ficou recluso. Quando retorna aos palcos, recebe mensagens de um homem escondido na audiência (John Cusack) que o tem sob sua mira. O desconhecido promete que o matará caso erre uma única nota.
É um filme rápido de suspense. Rápido mesmo. Quando olhei para o relógio fora da sala notei que havia entrado aproximadamente uma hora e vinte minutos antes. Isso porque a sessão teve trailers. Seguindo a linha de outros filmes como Por um Fio e 1408, a narrativa se mantém quase constantemente no piano com Tom enquanto ele faz sua performance.
Tudo no filme evoca o estilo clássico do Alfred Hitchcock. Com direito até a referências claras a diversos de seus filmes. Tem o MacGuffin, mise-en-scène elaborada e suspense. O que falta é o brilhantismo do diretor inglês.
O roteiro é muito mal escrito. Os diálogos são tão expositivos que quase metade das falas estão lá para explicar contextos. Sempre de formas bizarras que não fazem sentido com os momentos em que são ditos. Quando o plano dos vilões, por exemplo, é revelado, fica impossível não se questionar do porquê da explicação. Não faz sentido o vilão se subjugar como o faz na cena sendo que ele tem todo o controle.
Além dos diálogos, a trama não faz sentido. O vilão grita em certo ponto que está planejando o golpe há três anos. O que é impossível porque ele não tinha como prever que Tom voltaria a tocar nem que seria naquelas condições específicas. Depois ele diz que não havia outra escolha para conquistar seu objetivo, mas é bem fácil pensar em umas cinco opções mais fáceis de fazer aquilo.
Os personagens não têm profundidade. Tom tem o trauma do fracasso passado, mas não tem nenhum problema pra tocar o piano rápido feito uma bala ao mesmo tempo em que faz várias outras coisas, como digitar em um celular ou conversar com o antagonista. O trauma em si não tem importância para a narrativa, apenas serve para que o diretor construa um momento claramente copiado do estilo do Hitchcock. É um grande momento cinematograficamente, mas não faz diferença para o filme como um todo.
Dedos acelerados. Nunca houve motivo para que Tom tivesse algum receio de tocar.
Os outros personagens são caricatos e suas ações tão abobalhadas que não há como sentir medo por eles. Tudo piora muito quando o filme chega no clímax e toda e qualquer ação realizada por qualquer um dos personagens não se adequa às situações em que estão inseridos. Eles simplesmente ficam fazendo idiotice seguida de idiotice.
A fotografia consiste basicamente em luz de ataque verde ou azul e contraluz vermelha. Fiquei procurando significado, mas a ideia é apenas dar ambientação para mergulhar o personagem no vermelho no ápice de tensão e perigo. Ou seja, a fotografia existe apenas para auxiliar a narrativa nos últimos quinze minutos da projeção. O mesmo acontece com a direção de arte, que acrescenta aos tons vermelhos e verdes através dos cenários.
O MacGuffin do filme é uma deturpação do conceito. De acordo com Hitchcock, ele é apenas um motivo para o personagem seguir adiante. Uma desculpa para desenvolver os conflitos pessoais. Mas aqui ele toma completamente o foco da trama. O conflito emocional de Tom é explorado apenas na introdução. Assim que ele vê o laser da mira nele, todas aquelas questões vão embora.
Tendo dito isso, o ritmo acelerado serve bem ao filme. A tensão surge rapidamente e antes que ela se perca completamente, já está acabando. Se todos os defeitos fossem mantidos por muito tempo, o filme se tornaria uma comédia involuntária. Em alguns momentos já dá pra rir de algumas coisas.
Também é preciso dar valor aos enquadramentos. O diretor Eugenio Mira usa planos belíssimos. Alguns até com significado para a narrativa. Mas de resto, apenas gira a câmera pra lá e pra cá para criar uma sensação de urgência constante, mas só fica confuso. Isso também se dá por conta da péssima montagem, que coloca som de diálogos em bocas que não se movem e corta quando os planos ainda estão se desenvolvendo.
O Elijah Wood tenta dar consistência ao personagem principal, mas a incoerência do roteiro arruína seus esforços. O John Cusack funciona como a voz opressora no telefone e depois parece uma ameaça real quando se revela pessoalmente, muito diferente do que ele faz normalmente.
A melhor coisa do filme é um plano elaboradíssimo que subitamente revela feito com duas câmeras ao mesmo tempo. Tirando esse momento, o filme serve como escapada rápida se a pessoa tiver que esperar pouco mais de uma hora no shopping e não tiver paciência para visitar alguma loja.
GERÔNIMOOOOOOOO…