Postado em: Reviews

Trama Macabra

4627
Trama Macabra foi o último filme de Hitchcock. O diretor o fez com um marca-passo no peito e já bastante debilitado. Isso se reflete bastante no resultado final dessa despedida das câmeras. Ainda assim é uma obra que reflete bem as propostas do realizador.

Dois casais bastante diferentes vivem suas tramas paralelas. George e Blanche são dois trambiqueiros que recebem a oportunidade de ganhar uma bolada. Tudo o que precisam fazer é encontrar um garoto que foi dado para adoção 40 anos antes. Arthur e Fran são donos de uma joalheria que tem como hobby sequestrar celebridades em troca de diamantes. Obviamente essas tramas vão se encontrar.
Hitchcock parecia achar a proposta extremamente ousada em sua época. Ele acreditava ser um roteiro mais desafiador tanto para ele como criador quanto para o público.
São dois casais criminosos bastante diferentes entre si. Os trambiqueiros são muito ingênuos e cometem erros demais. O outro é mais inteligente, elegante e rico. O casal pobre é tomado de cenas cômicas nas quais se constrói uma simpatia por eles. George é um taxista que trabalha como detetive investigando a vida das pessoas. Enquanto isso, Blanche usa essas investigações para enganar os clientes e se passar por uma vidente.
Juntos, eles protagonizam momentos bizarros. Ela o culpa pela falta de pistas, sendo que ela mesma nunca faz muita coisa, além de cobrar por sexo. Ele gosta, mas precisa conciliar o trabalho como taxista com as investigações. São o brilho do filme. Ela se desdobra para fingir para os clientes que realmente está recebendo a visita de um espírito e ele zomba das mentiras dela.
O casal mais rico possui tendências cruéis, é frio e calculista. O diretor não se incomoda em esconder que usa esses recursos. Por isso mesmo não incomoda. O filme não se leva muito a sério. Hitchcock se focava em fazer suspense. Quando isso não era possível em uma cena, ele criava comédia. Seus filmes são espetáculos em essência. E por ser um espetáculo quase fantástico, criar simpatia através do humor não destoa.
Uma sequência em especial merece destaque. Quando George e Blanche se encontram dentro de um carro com os freios cortados. É bem clara a mão de Hitchcock na cena. Os dois entram no carro e o espectador já sabe que algo está errado. O suspense reside em ver os dois passar pelo perigo detalhadamente por bastante tempo.
O filme não possui o brilhantismo de suas obras maiores. Ele se destoa do período em que foi feito. O vilão é bizarro e grande parte das construções de cena refletem bem o cansaço físico que a idade impunha ao diretor.
Fica a tristeza de estar vendo a última realização do inglês. Mas ainda é uma boa mostra de seu cinema, mesmo que esteja longe de ser uma de suas maiores obras.
 
ALLONS-YYYYYYY…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *