Eis que Michael Bay ataca novamente. Transformers 4 é a nova parte no plano de longa data do diretor de dominação global. E ele parece estar ganhando, uma vez que os testemunhos indicam que o filme tem sido aplaudido de pé nos finais das sessões nos Estados Unidos, onde já foi lançado.
Após os eventos do terceiro filme, a humanidade não quer mais conviver com os Transformers. Eles tentam sobreviver como podem escondidos no planeta. Enquanto isso, Cade (Wahlberg), um inventor do interior compra um caminhão abandonado para usar suas peças e descobre que se trata de um dos robôs alienígenas, o que coloca sua cabeça a prêmio. Ele passa a fugir pelo mundo junto com o transformer e sua família.
O filme tem uma função bem básica a ser cumprida. Mostrar muitos robôs saindo na porrada com outros robôs. E como sempre, é o que Bay entrega. O problema, como em todos os outros filmes, é como ele entrega isso e o que vem a mais junto.
Bay tem um jeito bem específico de filmar. Câmeras em contra-plongée para filmar os personagens com algum céu enaltecedor no fundo, normalmente pores do sol com o astro jogando sua luz diretamente contra a lente. Muita câmera lenta aqui e ali pra indicar qual cena de ação é maneira. Humor racista e pastelão. Alguma garota ou adolescente feita para ser a gostosa da vez com maquiagem que resiste a guerras, explosões, ser arremessada através de paredes. Além, é claro, de câmeras girando em helicópteros ao redor dos momentos grandiosos de ação, carros explodindo aleatoriamente e muita computação gráfica.
Contra-plongée exacerbado. Bay em ação.
No primeiro filme esse estilo até funcionou bem porque Bay estava sendo contido pelo Steven Spielberg. Então não haviam cenas ridiculamente longas e desnecessárias. A trama fazia sentido e até o personagem humano de um histérico Shia LaBeouf tinha uma história interessante. Então, quando os robôs saíam no braço, o espectador ficava envolvido com todos os personagens em cena e não ficava entediado porque as lutas eram longas o bastante para serem empolgantes, mas curtas o bastante para não entediar.
Com o sucesso, ele ganhou carta branca para fazer o que quisesse e assim recebemos o segundo e o terceiro filmes. Cada um maior que o outro. Com mais cenas de ação inúteis. Com menos trama e lógica narrativa. E só vai piorando porque cada vez ele ganha mais liberdade criativa.
Começa com o inventor Cade. Quem neste mundo vai acreditar que o Mark Wahlberg é um cientista que vira as noites inventando e reconstruindo equipamentos mecânicos? A filha dele, que tem 17 anos e praticamente não usa roupas porque é o que seu papel de gostosa aleatória requer. Ela também usa salto alto para estudar numa tarde comum. O namorado dela é um piloto de corrida irlandês que não serve nem para os momentos dramáticos (sua função é ser o motivo de conflito entre o pai e a filha) nem para os cômicos (as cenas de cômicidade do personagem são vergonhosas).
Os vilões humanos estão ajudando alguns transformers a caçar outros transformers. Por que? Em parte porque vão ganhar dinheiro com isso. Em parte porque transformers são inimigos. Mas, se são inimigos, porque eles ajudam alguns? Não há explicação pra isso e o filme não se importa com esse tipo de coisa. Para demonstrar que um representante do governo é burro, coloca um bigodão bizarro na cara dele e escolhe um ator baixinho e magro pra ficar gaguejando.
Neste mundo de estereótipos, tudo tem limite, certo? Não. Enquanto nos outros filmes o humor vinha de arquétipos raciais sobre negros e mexicanos, este foca as piadas em irlandeses (constantemente chamados de duendes e representados como covardes) e chineses (todo chinês fala gritando e luta bem).
Quanto à história, pode esquecer. Lá pelas tantas ela não faz mais sentido. Quando o filme termina, os protagonistas humanos não conseguem seus objetivos iniciais. O que não os impede de celebrar vitória e se abraçar em alegria. Basta pensar um pouco para perceber que tem algo errado no suposto final feliz deles.
Mas pelo menos os robôs saem na porrada. Maravilhosamente. Michael Bay ainda mantém a câmera perto dos gigantões que se movem rápido demais. Ou seja, grande parte das cenas de ação são basicamente um monte de sucata explodindo pra lá e pra cá. É comum ver dois robôs trocando golpes. Corta para duas pessoas gritando em algum lugar. Quando volta para os robôs, eles estão na forma de carro em uma perseguição sem identificação de como foram do ponto A para o ponto B.
Toda grande cena de ação do filme envolve longas sequências disso. Latarias voando pra lá e pra cá sem lógica, cortes incompreensíveis e muito barulho. Se repetições disso por duas horas e quarenta e cinco minutos são cansativas, piora muito quando o final do segundo ato ocorre com mais ou menos uma hora e tantos. Ou seja, o terceiro ato tem mais de uma hora.
O trio principal. Salto alto para estudar, briga pessoal com robôs e piadas racistas.
Mas é preciso dar o braço a torcer para o Mark Wahlberg. Ele realmente se entrega para o papel, por menos sentido que ele faça. Também é preciso reconhecer a força dele. Em certa cena ele confronta diretamente um transformer e consegue parar os golpes dele com o braço. Ou ele é muito forte, ou senso comum também não tem mais importância para o Michael Bay. A atriz que faz sua filha, Nicola Peltz, consegue dar carisma para o estereótipo ambulante que o roteiro faz de sua personagem. O Stanley Tucci passa vergonha em cena como uma mistura de sátira ao Steve Jobs e um alívio cômico tresloucado. É triste ver o Kelsey Grammer em um papel tão estúpido quanto o vilão humano principal. Mesmo assim, ele solta cada uma de suas falas ridículas com convicção. Demonstrando quanto ele é um bom ator desvalorizado, ou que ele realmente não sabe os absurdos que está dizendo.
A franquia Transformers só piora a cada filme que passa. E o Michael Bay fica cada vez mais rico e poderoso por trás das câmeras. Pelo menos ainda não somos obrigados a ver um filme dele por ano. Se bem que o último dele foi lançado ano passado.
Preocupante…
Concordo plenamente com tudo kkkkkkkk