Alienígenas com habilidade de se transformar em carros de luxo velozes e explosões gigantescas em ambientação de guerra, onde governo e exército americanos partem em defesa de toda a raça humana. Hollywood parece ter se convencido de que essa fórmula não só gera muito dinheiro com a venda de ingressos e merchandising, como prontamente justifica mais um filme da saga Transformers, sob a direção de Michael Bay. Sem nenhum requisito a mais.
Transformers: O Último Cavaleiro é o quinto filme da saga e dá continuidade ao roteiro anterior. O mundo declarou guerra aos alienígenas, que, por sua vez, decidem se esconder. Cade Yeager (Mark Wahlberg) retorna como o defensor dos Transformers, apesar das tentativas dos militares de exterminá-los. Izabella (Isabela Moner), uma órfã de 14 anos que encontrou nos Transformers uma nova família, decide apostar em seus talentos com mecânica para conquistar Cade e viver no ferro-velho onde ele se esconde e mantém a resistência.
Enquanto isso, Optimus Prime (voz de Peter Cullen) – o famigerado líder dos Autobôs – segue em viagem de volta a seu planeta de origem, Cybertron, para tentar entender como ele foi destruído e como refazer a vida de sua espécie. Ao mesmo tempo, o clássico vilão Megatron (voz de Frank Welker) tenta mais uma vez ganhar o poder para os Decepticons na Terra.
Em paralelo, temos uma família de origem inglesa antiga, descendente direta do próprio Merlin (Stanley Tucci). Há uma correlação entre a renovação de Cybertron e a destruição da Terra, ligados pelo cajado de Merlin, pelo Rei Arthur (Liam Garrigan) e seus cavaleiros da Távola Redonda – representados nas figuras da professora que é a ultima representante da descendência, Vivian Wenbley (Laura Haddock), e do guardador do segredo, Sir Edmund Burton (Anthony Hopkins). Este precisa arquitetar o encontro entre o escolhido para defender a Terra e a descendente do mago, detentora dos segredos de sua magia, para salvar o planeta e defender Bumblebee e companhia.
Ufa! São tantos núcleos diferentes e personagens com focos distintos na trama que se torna cansativo apenas tentar arredondar a sinopse do filme. Entre Transformers, Decepticons, militares, representantes do governo, cientistas, famílias nobres inglesas e Wahlberg correndo e gritando, a confusão é totalmente justificada.
Não há esperanças para um roteiro redondo numa situação como essa e, por mais que seja possível acompanhar tudo, o longa que possui 2h30min de muita ação ao melhor estilo Michael Bay inicialmente diverte e eventualmente cansa, com certa previsibilidade.
Falemos da trama. O primeiro ato do filme é terrivelmente cansativo e desinteressante. Na intenção de exemplificar o tipo de sobrevida a qual os Transformers são submetidos na Terra, a cena onde somos apresentados a Izabela é forçada, mal escrita e mal filmada. Sem falar na enorme cena de abertura com uma longa explanação do ambiente de guerra na Inglaterra durante a Idade das Trevas, quando Merlin usa sua legendária “magia” para ajudar os cavaleiros a vencerem o combate. De positivo somente se nota o bom uso do 3D, a ambientação digna do próprio condado (Peter Jackson ficaria orgulhoso), com belas montanhas verdes e castelos medievais, e a coloração viva e clara, novidade nos filmes da saga.
Aliás, a maior surpresa de todo o longa foi a inexistência de cenas noturnas e escuras, marca registrada dos filmes anteriores. Em Transformes: O Último Cavaleiro, as cenas de ação se passam à luz do dia, claras e bem visíveis, compostas por atuações agitadas e computação gráfica de alta qualidade. Parece que o diretor ouviu as críticas anteriores e nos permitiu apreciar sua bela paleta de cores, sem se perder nos cantos escuros ou rapidez dos cortes exagerados.
O segundo ato traz um respiro maior ao ritmo do filme, consegue melhorar o passo e intercalar as cenas de ação com as explicativas de forma mais orgânica. Isso se dá em grande parte pelo surgimento em tela do genial Anthony Hopkins, peça central no desenvolvimento da trama dali para frente.
Finalmente, a conclusão traz tudo aquilo que se pode esperar. Muita ação, cenas longas e panorâmicas, a reunião de todo o elenco em situação conflituosa e eventualmente amigável e a promessa de que, caso haja vontade do Sr. Hollywood, mais um filme terá furos de roteiro para explorar.
O elenco entrega, sob o comando de Wahlberg, uma energia alta durante todo o filme e visualmente há muito com o que se ocupar. Foi feito para agradar os fãs da franquia, que priorizam o fator diversão.
A dublagem dos variados seres alienígenas tem a qualidade esperada de nomes conhecidos e admirados na indústria, como John DiMaggio e John Goodman. No entanto, se perdem um pouco na multitude de seres, todos interagindo com agitação. As nuances das vozes ficam apenas como agrado para quem curte o trabalho dos dubladores.
Ponto extra pela galhofa gratuita que o filme faz com Cuba que, no mundo habitado por Transformers em guerra contra os militares americanos, resolveu abrir suas portas para receber os gigantes, a divertir-se com bolas coloridas nas areias das belas praias cubanas.
Sabendo que poucos são os que saem de casa para assistir a um filme da saga Transformers pensando em levar-se a sério, recomenda-se muita pipoca, desapego, e duas horas e meia que não pretendem investir em mais nada.