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Você sabe que filme é este Um Dia para Viver. O nome e uma imagem já dizem tudo. Uma produção rápida de ação feita unicamente como diversão passageira. O fato de que a divulgação deixa claro que é dos produtores de John Wick, com um diretor cuja carreira se resume a trabalhos como dublê e diretor de segunda unidade, apenas torna tudo mais óbvio.
Até a trama serve para isso. Depois de cometer um erro em uma missão, o assassino de aluguel Travis Conrad (Ethan Hawke) é morto com dois tiros no peito. Mas ele acorda em uma maca depois que um procedimento experimental é feito pelos contratantes dele. Agora, ele tem um cronometro na pele que indica 24 horas de vida. Com pouco tempo, é hora de buscar correção pelos erros que cometeu.
A intenção dos realizadores é tentar repetir o sucesso de John Wick com uma equipe técnica recheada de experiência em cenas de ação bem feitas. Basta buscar o histórico do diretor Brian Smrz, do compositor Tyler Bates, ou até das longas listas de diretores de segunda unidade e de especialistas em efeitos especiais. É um filme feito para ter cenas de ação que merecem ser vistas.
E é isso o que o espectador vai conseguir. Cenas de ação bem feitas com direito a muito tiroteio, perseguições de carro e violência verossímil. Para estabelecer as habilidades de Travis logo no início, o trio de roteiristas Zach Dean, Ron Mita e Jim McClain mostram como ele é capaz de enganar dois homens eficientes ao fingir que entrou em um banheiro e misturar dois produtos de limpeza.
Não é apenas músculo e tiro, mas estratégia. O que faz com que um ator como Hawke se encaixe bem no papel. Ele usa de olhadas rápidas para demonstrar que percebeu algo e agir, de forma que o espectador possa compreender uma ameaça junto com o personagem. Ao mesmo tempo, ele convence com os movimentos de uma pessoa com perícia em combate.
Neste sentido, Hawke está bem acompanhado por Qing Xu, que interpreta a agente da Interpol Lin Bisset, que conquista a empatia de Travis. Ela se movimenta com destreza nas cenas de ação. Infelizmente, em cenas como a que tem que flertar com alguém, ela parece olhar para um ponto na parede. Em contraste com Hawke, cujo personagem tem alucinações com a família morta devido ao procedimento que o mantém vivo. O ator carrega todo o peso necessário de uma pessoa culpada e magoada.
O que leva a algumas decisões de roteiro incomuns. A jornada de Travis para enfrentar os antigos contratantes é também uma redenção de um passado de violência. Ele precisa abraçar algo inerente a ele, que é a destruição, para fazer o correto. E em trocas rápidas com um dos vilões que era amigo dele, os dois compreendem os erros que cometeram e chegam a decisões finais muito corajosas para filmes de ação do tipo. A concepção é estranha, pois os diálogos ocorrem em meio a tiroteios violentíssimos e parecem fora de lugar, mas as escolhas são interessantes para o desenvolvimento de cada pessoa na história.
Sobre a violência em si, Smrz faz com que a câmera esteja afastada para que todas as manobras dos dublês possam ser vistas em um único enquadramento. Assim, quando alguém leva um golpe, cai no chão ou atira em vários inimigos, o espectador tem noção de onde tudo no espaço da cena está. Em uma certa perseguição, dois carros emparelham e Lin consegue atirar rapidamente em três inimigos. Todos os personagens são visíveis e os efeitos especiais fazem parecer que aquelas pessoas realmente estão em carros em alta velocidade.
Há várias cenas estranhas, como diálogos profundos fora de lugar ou interpretações fracas. Talvez a pior parte seja o exagero de ápices de ação no terceiro ato. Especialmente em uma cena vergonhosa com o Rutger Hauer que não acrescenta nada e não faz sentido no roteiro. É um desperdício de um excelente ator. No entanto, o filme funciona muito bem exatamente como ele se vende: ação rápida e bem feita.