Uma regra não fundamental, mas ainda assim seguida por alguns, de crítica de cinema é não ler críticas de outras pessoas antes de fechar a própria. Depois de lançar minha crítica de Jurassic World, fui atrás das opiniões de outros e me peguei surpreso com algumas discussões muito interessantes sobre as quais refleti bastante. Então vamos falar mais sobre o filme.
Dentre algumas opiniões bizarras, como o vlogueiro que deixou claro no facebook que só ele entende de cinema porque foi minoria ao não gostar do filme, e algumas discussões bem fundamentadas, como os dois apresentadores do Red Letter Media que tiveram opiniões contrárias, a grande maioria gostou bastante de Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Todos, porém, reconhecem os muitos defeitos dele.
Uma coisa sobre a qual todos os que gostaram concordam envolve as reflexões depois da sessão. As pessoas saem do cinema e amaram o que viram, mas na hora de falar sobre, só pensam em coisas negativas. O que exige um esforço mental para compreender. Existem muitos defeitos em Jurassic World, mas de alguma forma, funciona. Como encontrar as qualidades por baixo dessas camadas problemáticas?
Primeiro, identifiquemos os defeitos. Número um: personagens sem profundidade; Dois: diálogos mal escritos e terceiro: muitos estereótipos que fecham em coisas que não condizem com o padrão.
Os quatro personagens principais não possuem profundidade. No caso, as duas crianças e os dois adultos. O menino mais novo é um moleque chato e chorão. O mais velho se resume ao fascínio com o sexo oposto. A tia é a típica administradora sem coração que vê tudo como número e não dá valor à família ou aos animais. E Owen Grant é um brucutu saído do exército que é foda em tudo o que faz, mas não tem personalidade. Os relacionamentos entre eles são pobres. O que leva ao segundo problema.
A tia Claire e o grosseirão Owen são, claramente, incompatíveis. Para construir a atração entre os dois, um diálogo besta sobre um primeiro encontro fracassado expõe uma relação que nunca convence. Para explicar que os pais das crianças estão se divorciando, um diálogo absurdo sugere “Se nossos pais se divorciarem, cada um vai morar em casas diferentes?”. Desculpa mínima para que a interação entre irmãos que não se dão bem vire uma camaradagem que não desperta interesse.
Todos estes clichês e arquétipos são utilizados em histórias para conduzir a momentos específicos. A tia sem coração ganha a morte mais lenta e dolorosa. O mocinho grosso salva o dia com uma ação extraordinária. Mas nada acontece de acordo com o roteiro comum neste filme. Quem ganha uma morte horrenda é uma personagem que nunca fez nada de mal. A tia tem um momento singelo com um dinossauro moribundo e passa a ter empatia.
Daí surge a compreensão. Se fosse no padrão, seriam clichês comuns. Mas o filme quebra um por um. Claire salva Owen constantemente e é quem faz a ação que salva o dia no final. A morte daquela personagem que não merecia o que acontece causa pena e fica um pouco mais perturbadora.
Outra coisa. Ao remover os defeitos do roteiro, nota-se uma estrutura muito boa. A ação escala e o ritmo acelera aos poucos. Até chegar a um clímax empolgante. Com a boa direção de ação do Colin Trevorrow, fica mais divertido. Quando as coisas clichês não acontecem como normalmente, tudo surpreende. Isso sem contar com o humor constante que também brinca com estereótipos. O carinha bobão e nerd não fica com a garota nerd e charmosa do escritório no que resulta em uma piada hilária.
Outra qualidade. O roteiro discute o cinema blockbuster atual. Dinossauros não são mais o bastante, é preciso ser maior. Daí os filmes perdem qualidade e viram coisas em escalas grandes demais e com pouca qualidade. Um personagem até usa uma camisa em homenagem ao filme original como referência ao básico de maior qualidade.
Ao final, reconheço mais problemas que antes, mas gosto ainda mais de Jurassic World. Adoro os velociraptors, como o confronto final é representativo das forças da natureza, o humor, a ação. Quem diria que um filme que dividiria tanto as opiniões viria a ser uma das maiores bilheterias da história do cinema?
P.S: Outro defeito terrível são os saltos da Claire. Quem diabos fica correndo naquelas condições de salto? Para relaxar em relação a isso, fique com o vídeo abaixo, no qual a atriz Bryce Dallas Howard explica como o fez e o Chris Pratt surpreende. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=oqwU6SahymQ]
FANTASTIC….
O defeito dos saltos é muito proposital hahaha corajosos! E de tão bizarro, a gente até aceita hahaha
É o que eu acho também. Um bizarro divertido.