Cinco anos atrás, a dupla Christopher Miller e Phil Lord conseguiu provar que estava além da sorte de principiante quando fez Anjos da Lei ao lançar o primeiro Uma Aventura Lego nos cinemas. Hoje, depois de Homem-Aranha no Aranhaverso, eles demonstram mais uma vez a capacidade, mesmo que apenas no roteiro desta continuação.
Porque é difícil imaginar o desafio de dar continuidade às aventuras de Emmet (voz de Chris Pratt), o boneco de Lego genérico que revela o valor em todas as pessoas após descobrir que é um boneco de um garoto que quer mais contato com o pai. Mas Miller e Lord acertam em fazer com que o personagem passe justamente pelos conflitos do ser humano que brinca com ele.
Então, quando Emmet se vê preso a Rex (também dublado por Pratt) quando tenta salvar os amigos sequestrados por seres alienígenas, os roteiristas sabem qual a história que querem contar. Isso porque o mundo dos heróis de Lego do primeiro filme foi abandonado e eles obrigados a fugir para um deserto quando a irmã do dono deles atrapalha a brincadeira.
Daí, surgem os aspectos formidáveis dos vilões do filme. Como a menina mais nova não compreende as regras das brincadeiras do primogênito, as armas dos heróis não têm efeito sobre eles. A garota gera conflitos preocupantes para os heróis, que acreditam ser necessário se tornar mais duros e sérios.
É onde entra o novo personagem, Rex. Ele é uma versão de tudo o que Emmet e a namorada Lucy (voz de Elizabeth Banks) acreditam que ele deve ser. E, assim como no primeiro filme, a jornada é mais interna que apenas um confronto com um inimigo desconhecido. Com direito a muitas reviravoltas metalinguísticas em relação ao contexto dos brinquedos.
A qualidade da animação se mantém. A computação gráfica é usada para dar ao universo de plástico dos Legos a maior verossimilhança possível. Ao mesmo tempo, o recurso permite quebra de frames para fazer parecer com que o movimento dos bonecos e peças pareçam stop-motion, o que aumenta a sensação de que tudo são Legos de verdade.
O tom de anarquia e humor do antecessor também é mantido. Com direito a uma zombaria bem vinda em relação à auto estima do Batman (voz de Will Arnett), que precisa se sentir valorizado, apesar dos defeitos que finge não ter. Além disso, essas brincadeiras servem como uma crítica a conceitos comuns de masculinidade tóxica diretamente conectados ao herói.
O resultado é mais um feito valorizável da franquia Lego nos cinemas. Com subversão de valores ultrapassados, reflexões sobre os conceitos dos brinquedos, e até do que é uma animação. Nem mesmo a carreira recente de Pratt é deixada de lado na hora das piadas, com direito a referências a Jurassic World, Guardiões da Galáxia e Sete Homens e um Destino.