Depois de alguns milhões acumulados em bilheterias globais, a franquia Uma Noite no Museu chega ao seu capítulo final com este terceiro filme. Surpreendentemente, a trilogia termina com um filme bom. Sem se perder no desgaste habitual de franquias que se estendem além da exaustão de seus conteúdos.
A placa de Akhmenrah, o objeto responsável por dar vida às peças de museu, começa a oxidar. Quando o processo estiver completo, as versões vivas dos itens do museu morrerão. Para salvá-los, Larry (Stiller) viaja para um museu de Londres com o objetivo de animar os pais de Akhmenrah pois eles são os únicos que sabem o segredo para salvar a placa.
Uma Noite no Museu é uma série feita com o intuito puramente infantil. Peças de um museu acordar durante a noite é algo que vai tocar profundamente no imaginário infantil. A presença de Ben Stiller como protagonista e de Shawn Levy como diretor dão para os filmes o tom de comédia estadunidense. No entanto, a trilogia também busca retomar o estilo oitentista de filmes de aventura. O primeiro era sobre responsabilidades, o segundo sobre descobrir sua vocação e este terceiro sobre desapego.
Em termos de aventura, o roteiro funciona muitíssimo bem. O problema da placa nunca deixa de ser o foco e a comédia aparece apenas para manter o ritmo de diversão. A parte de desapego está relacionada com Larry ser capaz de aceitar que o filho tire um ano antes da faculdade para viajar através do mundo. A relação entre a história de paternidade com os eventos no museu não dialogam muito bem, mas serve para o final tanto da história como da trilogia. Mantém o tom de aventura do segundo filme retomando a estrutura e diversos elementos do primeiro. Os dois combinam bem e resultam no que talvez seja o mais divertido dos três filmes. A busca dos personagens é envolvente, o ritmo é bom e tanto a comédia quanto a aventura funcionam. Existe um diálogo extraordinário sobre religião em que Stiller explica como os egípcios foram cruéis com os judeus. As características de cada personagem não são perdidas, o tema é sério, ensina para as crianças e ainda consegue ser bem humorado.
Lancelot é a nova adição ao grupo de figuras que ganham vida durante a noite.
A direção de arte representa bastante bem as peças de museu. As roupas dos personagens históricos não precisam ser realistas porque eles não são as pessoas reais. São peças de museu usando roupas que os representam. Ainda assim, quando as estátuas, pinturas e ossadas ganham vida, os efeitos não decepcionam e os recriam tridimensionalmente com uma verossimilhança assustadora. Em uma cena, os personagens enfrentam uma escultura de um Xiangliu, um demônio cobra chinês de nove cabeças. É impressionante como o monstro realmente parece estar em cena, mesmo sendo 100% digital. A cena inclusive, é uma sequência de ação muito bem dirigida.
Levy se revela um diretor em constante evolução. Se o início com comédias despretensiosas não era muito empolgante, a cada filme ele demonstra um domínio maior de ritmo, de câmera e de montagem. A sequência em que bonecos minúsculos são sugados pelo duto de aquecimento do museu mistura computação gráfica, atores reais e cenários detalhados através da montagem. A cena convence de que aqueles dois estão realmente voando através de um duto de aquecimento. Parece besteira, mas é algo muito difícil de estruturar e requer um diretor minimamente eficiente. Sem contar que ele ainda mantém o clima de humor em meio à ação.
Ben Stiller não vai além do lugar comum do personagem que já representou em dois filmes. Ele tem a chance de se divertir com um personagem neandertal que tem o seu rosto, mas aí é só brincadeira pessoal do comediante. O Rick Gervais faz uma participação rápida, mas é engraçado sempre que aparece. A dupla Owen Wilson e Steve Coogan merecia um filme só deles, os dois ganham cenas com direito a referências a Toy Story 3 e dão conta de suas próprias aventuras. Ben Kingsley faz uma rápida participação mas não acrescenta muito. A novidade é o ator Dan Stevens como o cavaleiro Lancelot. Ele segura a interpretação mesmo nos momentos mais ridículos. Principalmente em uma cena hilária na qual aparece diante de dois atores surpresas. O trio Dick Van Dyke, Mickey Rooney e Bill Cobbs faz uma participação especial. Ver os atores clássicos no cinema é sempre um prazer. Inclusive Van Dyke arriscar uns passos de dança deu vontade de voltar pra casa e rever Mary Poppins.
Rooney, Van Dyke e Cobbs reaparecem em suas participações especiais.
Uma Noite no Museu 3 faz o que promete. É engraçado como comédia, envolve como aventura e discute com muito coração os temas que trata no roteiro. Um filme ideal para as crianças e divertido o suficiente para não entediar os adultos.
P.S.: Admito sem vergonha alguma que chorei quando, no final do filme, os personagens começam a se despedir. Não apenas porque o filme trabalha bem a ambientação, mas também porque dá a oportunidade para os espectadores de ver o falecido Robin Williams se despedir com um discurso sobre seguir a vida após perder contato com pessoas queridas.
ALLONS-YYYYY…