Alguém lembra? O vice-presidente Al Gore concorreu à presidência dos Estados Unidos pelo partido republicano e, após perder para o George W. Bush, começou a fazer uma série de palestras para conscientizar o mundo sobre o aquecimento global. Um dos passos dessa campanha foi o filme Uma Verdade Inconveniente.
Entre milhares de fatos e informações bem embasadas, Gore apontava como todo o globo terrestre está em perigo devido ao nível de liberação de gás carbono na atmosfera. E como, se a situação não mudasse em breve, os primeiros fatores climáticos começariam em menos de cinco anos. Passados onze anos, ele está de volta aos cinemas para retomar o assunto.
Uma vez que Gore advoga a favor da causa desde a década de 1970, ele é uma fonte de informações que garante um documentário rico e bem embasado. O que já é uma vantagem para este filme, assim como para o original. Por outro lado, são duas obras centralizadas na figura de um homem que era um político estadunidense, e a produção parece respirar ações políticas a cada vez que o vice-presidente aparece na tela.
É um fato que o planeta Terra é assolado pelo aquecimento global. Além do número exaustivo de evidências científicas de derretimento de geleiras em todo o mundo, áreas mais quentes, níveis de poluição atmosférica e muitas outras, entre o primeiro e o segundo filme, catástrofes decorrentes do fenômeno já atingiram todos os continentes.
Essa é uma das principais diferenças entre as duas produções. Na primeira, Gore prevê um alagamento, em Nova Iorque, que iria encher o local do World Trade Center de água. Neste, ele mostra imagens de quando a previsão se tornou realidade com o furacão Sandy, em 2012. Ele vai também para Miami, que já está com os níveis de água tão altos que processos de elevação da cidade parecidos com Veneza estão em planejamento.
A outra diferença é o foco na Conferência do Clima Paris 2015, em que centenas de países se reuniram na capital francesa para assinar um acordo de refrear a liberação de gás carbônico na atmosfera. Essa é uma das partes onde a política toma conta do filme. Porque o drama da assinatura da Índia, que não queria participar, quase pôs o compromisso em perigo.
Então, a sequência pausa toda a demonstração de fatos para seguir Gore, enquanto ele faz lobby para que o acordo seja assinado. Ele é retratado com um herói anônimo, com direito a um plano no qual se afasta da conferência, solitário, após ter criado as condições econômicas para que a Índia assinasse o termo.
Não era necessário fazer com que Gore fosse representado como esse herói. Isso distrai o foco da produção no aquecimento global, que é muito mais importante. Por outro lado, o comentário político também é usado para alfinetar constantemente Donald Trump, o que é engraçado todas as vezes.
Assim como o original, é um filme importante com informações que precisam ser passadas para todas as pessoas. Infelizmente, como concepção cinematográfica, é problemático. Ainda mais com o que parece ser uma propaganda de Gore.