Com a estreia deste Vai que Cola 2 – O Começo, há dois filmes nacionais produzidos por Carlos Diegues em cartaz. O outro é o extremo oposto Bacurau. É quase irônico assistir a ambos em sequência. As produções envolvem inversões de valores e são praticamente antíteses uma da outra.
Este conta uma história prévia às sete temporadas da série de TV e ao filme anterior. Assim, acompanha a mudança de Ferdinando (Marcus Majella) para o Rio de Janeiro e como ele se encontrou com Jéssica (Samantha Schmütz), Terezinha (Cacau Protásio), Máicol (Emiliano d’Avila), Velna (Fiorella Mattheis) e Lacraia (Silvio Guindane) na pensão da dona Jô (Catarina Abdalla).
E como uma comédia típica feita para arrecadar muita bilheteria (o primeiro filme levou mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas), sobram estereótipos e fantasias para fazer com que a jornada desses personagens faça rir e os leve a ficar juntos. O meio dessa história, porém, é vazio.
Ferdinando gera humor devido à homossexualidade e à falta de forma dele. A piada é ver um homem não corresponder ao papel masculino e querer ser feminino. Principalmente um que mantém a barba ao se travestir.
Da mesma forma, há um reforço da imagem de pobres cafonas. As mulheres negras usam cabelo escovado e pintado de loiro. Em certo ponto, alguém fala que decote só fica bom quando mostra parte do sutiã. Grande parte das piadas envolvem ignorância e grosseria dos mesmos. Como a Terezinha, que grita à roda e é constantemente zombada pela parte técnica por ser obesa.
A câmera treme quando ela anda. Os personagens rebolam e se jogam em cena de forma caricata. Os cenários e figurinos são construídos meticulosamente para ter cores saturadas. A intenção é ser brega, como se a ignorância dos que vivem lá transparecesse em uma espécie de mal gosto.
Isso se reflete na fotografia, que se limita a iluminar tudo o que possa estar nas sombras. Para dar um tom mais escuro para as partes de perigo e de vilões, cores vermelhas e verdes tomam a tela. Nos corredores repetidos em que as cenas são filmadas, remete ao movimento Giallo. Será que era a intenção de César Rodrigues? Especialmente quando ele nunca deixa que nenhum momento deixe de ter piada.
Entre as interpretações cartunescas, é preciso dar destaque para Majella, que transborda sinceridade mesmo nos momentos mais absurdos de Ferdinando. Outro que merece atenção é Fábio Lago, em uma ponta. Mesmo com os diálogos exagerados, cada olhar dele é genuíno.
Para quem gosta desse tipo de humor, o filme oferece mais do mesmo. Para quem está cansado de estereótipos de gordos, gays, pobres, baianos, vale olhar a concorrência do mesmo estúdio e dos mesmos produtores. Lá, a população pobre pode ser engraçada pelos tipos, mas é inteligente e é reconhecida pela linguagem do filme como mais que fonte de piada.