Olha essa imagem que ilustra essa crítica. Se, por algum motivo, o dispositivo não a mostrar, ela tem cinco carros em fuga de um submarino nuclear no gelo. Parece idiota? Talvez até seja, mas Velozes e Furiosos 8 não se importa com isso. Desde que o número que faz parte dos títulos da franquia chegou a 5, a única coisa importante é ser uma diversão escapista com o melhor e mais exuberante que o dinheiro de Hollywood pode pagar.
Mais uma vez, a equipe liderada por Dominic Toretto (Vin Diesel) é chamada para ajudar a impedir que algum tipo de dispositivo útil para terroristas seja roubado de governos “responsáveis”. Mas o grupo se vê diante de um dos maiores obstáculos quando descobrem que têm que enfrentar o próprio Toretto para salvar o mundo. Para isso, são forçados a trabalhar com Shaw Deckard (Jason Statham), que também quer vingança contra a mulher que manda em Toretto, a terrorista Cipher (Charlize Theron).
Se a sinopse não parece fazer sentido, é porque os realizadores desse filme não se importam com isso. E o espectador inteligente já deveria saber disso, uma vez que é o oitavo filme de uma série considerada descerebrada desde a origem. A beleza da franquia é que ela soube se reinventar de uma trama policial para uma das mais estapafúrdias e, por que não, divertidas bobagens do cinema.
Em grande parte, trata-se de um mérito do roteirista Chris Morgan, que foi responsável pelos textos da série desde o terceiro. Ele é tão ciente da estupidez das tramas desses filmes que se permite fazer com que tudo seja bobo. É a razão para os personagens Roman (Tyrese Gibson) e Tej (Ludacris) sejam reduzidos a alívios cômicos que constantemente comentam sobre a falta de lógica das situações que vivem.
Sempre que estão em uma cena de ação maluca, Roman grita em desespero porque percebe que não faz sentido seres humanos sobreviverem àquelas coisas. Enquanto isso, Tej ri com zombaria porque parece ter ciência de que os protagonistas são quase como personagens dos Looney Tunes, que não vão sequer se machucar só com um acidente violentíssimo de carro.
Aqui, Morgan aproveita a chance de fazer com que os personagens Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e Deckard tenham que interagir para criar um segundo núcleo cômico na rivalidade dos dois. São dois dos bons brucutus de ação do cinema recente que querem cair na porrada, mas se restringem a xingamentos quando são impedidos. É hilário.
Quanto ao que realmente importa, a ação tresloucada, Velozes e Furiosos 8 é maior que a vida. Quando os protagonistas enfrentam submarinos nucleares com carros turbinados, nada mais faz sentido, mas é impressionante como tudo parece verossímil. O que acontece porque o diretor novato na franquia, F. Gary Gray, é ótimo para direção de filmes de ação.
Gray não quer tentar reinventar a roda com a ação. Apenas a filma com eficiência. Sabe usar os enquadramentos para dar destaque aos movimentos ao mesmo tempo em que corta nos momentos corretos para parecer que um homem pode realmente esquiar no gelo apoiado em uma porta de carro enquanto desvia um torpedo com a outra mão.
O único problema é que as mais de duas horas de duração fazem a ação ficar cansativa. Especialmente no terceiro ato, em que ocorrem tantos núcleos de história em tantos lugares ao mesmo tempo que, aos poucos, fica fácil não se importar mais. E é pior quando a trama se leva a sério, como nos dramas pessoais de Toretto. Na verdade, é em cenas mais bobas, como o extraordinário tiroteio estrelado por Statham enquanto carrega um neném nos braços, que o filme se torna divertido como deve ser.
Nisso, é melhor esquecer o elenco com conflitos sérios, como o Vin Diesel e a Michelle Rodriguez. São os que parecem se divertir com a bobagem do texto que revelam um lado interessante de interpretação, como Johnson, Statham, Gibson, Ludacris, Kurt Russell e o Scott Eastwood, que parece entrar em cena para substituir o Paul Walker. Em especial, Charlize Theron sequer parece se importar com a vilã que interpreta. É possível sentir que a atriz brinca com a canastrice que o papel permite a ela. O que é ótimo.
Velozes e Furiosos 8 é um filme estúpido, com cenas sem sentido e roteiro cheio de brincadeiras bobinhas. E justamente por isso, é divertido pra caramba. Infelizmente, como toda brincadeira, acaba cansando com o tempo. Se o espectador não gostar do tipo de piadinha, é melhor procurar outra coisa.
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