É raro ver algo como este Versões de um Crime no cinema atualmente. Filmes de tribunal com direito a suspense acerca de um crime ficaram tomados pela TV com séries como Law & Order e How to Get Away with Murder. Em tempos nos quais a linguagem se transforma e muitos roteiros resumidos a episódios são melhores que de filmes, será que o estilo ainda tem espaço para a tela grande?
Advogado experiente, Ramsey (Keanu Reeves) precisa assumir o caso de Mike (Gabriel Basso), depois que ele mata o pai, Boone (James Belushi). Ao mesmo tempo que o adolescente se recusa a falar desde o ocorrido, Ramsey precisa trabalhar com Janelle (Gugu Mbatha-Raw), uma jovem e inexperiente estudante de direito que foi forçada a trabalhar com ele devido a erros passados.
O jurista não sabe muita coisa, assim como o espectador. Todas as pessoas escondem segredos. O crime é repleto de mistérios. Ninguém está a salvo de ter defeitos e fazer coisas ruins. É um típico suspense de tribunal, em que as camadas caem aos poucos para desvendar o grande mistério da trama.
Nos melhores casos dos filmes do subgênero, a trama é sobre filosofias do direito ou sobre ética e problemas pessoas complexos. Não é o caso de Versões de um Crime, que trata exclusivamente sobre o crime e mais nada. E isso se reflete em todos os aspectos técnicos da produção.
O roteiro de Rafael Jackson não se permite ser sobre os dramas daqueles personagens ou sobre como as brechas do sistema jurídico criam problemas éticos fundamentais. Ele é apenas sobre quem matou Boone, como e por que. Por mais que siga a estrutura de três atos com eficiência, nunca é possível se envolver de verdade com os contextos e as situações porque ninguém é complexo ou parece ter sentimentos elaborados o suficiente para sequer causar empatia.
Em especial Ramsey, porque o protagonista é a única pessoa da fita que não tem conflito. Ele só quer ajudar o garoto que matou o amigo e só. Muitas vezes ele parece mais interessado em vencer por ego do que para salvar a pele do garoto. Piora ainda mais com uma péssima direção de atores, como a de Courtney Hunt.
Não é incomum ouvir críticas às limitações faciais de Reeves, mas quando um elenco com nomes como Renée Zellweger e James Belushi parece apático, o problema é a diretora. Além disso, ela resume a direção a enquadramentos baixos, com cores quase apagadas e contraluzes fortes. A falta de tons é tão forte que a única cena em que a saturação é forte, da morte de Boone, destoa. É como se houvesse mais vida no assassinato que no resto da história. Talvez seja a forma de destacar a importância do momento no enredo, mas ainda é superficial.
Com trama sem graça e personagens tão apáticos quanto a direção, Versões de um Crime fica tão esquecível que esta crítica quase não foi feita. E como toda a história existe apenas pela reviravolta final, é preciso deixar claro que ela não surpreende e, como não há envolvimento, sequer causa emoções.